sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Abuso Sexual



Sexualidade e Silêncio
(Natalie S. Dowsley)

Sexualidade e silêncio. Estes são os principais ingredientes da sociedade contemporânea ocidental. Talvez em nenhum outro momento da história da civilização, a sexualidade tenha sido tão abordada, às claras, como atualmente.
Novelas, filmes, músicas e clipes, propagandas - em especial, de cerveja, cigarro, carro; a sexualidade é tema constante, algumas vezes posto "indiretamente"; em outros tantos casos - a maioria! - a sexualidade assume o ponto central das obras... todo o "resto" - a música, a cerveja, a dramaturgia... - gira em torno, deixando de ser "foco" e tornando-se "fundo".
A rede mundial de computadores tornou possível o que antes fora o sonho de muitos: acessar informações sobre todos os assuntos, pesquisar conceitos de vários autores, ler livros - os de domínio público - sem ter que comprá-los, conhecer pessoas de todo o mundo, se comunicando com agilidade e eficiência.

As crianças e adolescentes estão crescendo, neste momento, em meio a toda esta "abertura". Crescem vendo e convivendo, na internet, na televisão, nos outdoors, com a sexualidade. Pensam, conversam e praticam sexo com mais naturalidade, menos pudor - nem sempre com mais responsabilidade (mas está é outra questão!).

Apesar de mergulhadas no tema, crianças e adolescentes não costumam desenvolver diálogos abertos, com pais, professores, parentes próximos, sobre sua própria sexualidade. Crescem sabendo que a sexualidade existe, mas não sabem o que fazer com a sexualidade quando ela floresce em seus próprios corpos...

Os adultos, que cresceram em um contexto social diferente, não sentem-se à vontade para abordar o tema com os filhos; as escolas, por sua vez, temem falar sobre o assunto e despertar a curiosidade a respeito de "algo" que ainda encontrava-se em estado de latência.

O grande problema surge assim.

Falar sobre o uso do próprio corpo, o local onde vivemos nossa sexualidade através dos toques, dos abraços, dos beijos, carinhos, masturbação, relações sexuais, é essencial!

Sendo tratado com tamanha divergência, o tema tornou-se público... só que, agora, ainda havendo "pudor", tornou-se apenas um "tema proibido bem difundido".

Somos seres sexualizados. Bebês, ainda mamando, podem ter ereções. Crianças, após descobrirem a mãozinha, o pezinho, também descobrem o "pintinho". Nada mais natural! Alguns pais se desesperam, ficam horrorizados, preocupados... mas, estas são descobertas sexuais saudáveis.

O que não é saudável, e que vem acontecendo com freqüência, é a descoberta da sexualidade da criança e do adolescente através de coerção, de medo, de uso de poder. Abusos sexuais.

Este tipo de violência sempre existiu nas sociedades. Não tenho, aqui, a pretensão de abordar o tema como algo "novo". A intenção é, ao contrário, falar de algo antigo, mas que persiste ao longo das gerações, causando transtornos a muitas famílias.

A maior parte dos abusos sexuais, cerca de 90%, acontecem através de alguém que reside com a vítima (pais, mães, tios, avôs, primos, irmãos, padrastos, madrastas...). Por isso, as escolas têm um papel fundamental na abordagem do tema com seus alunos, desde muito cedo. O tema "sexualidade" pode e deve ser abordado em todas as idades, cuidando-se, apenas, em adequar a linguagem e a forma de transmitir o "recado".

Os abusos também podem acontecer fora de casa, por um vizinho(a), um(a) professor(a) de natação, um estudante da mesma escola... Os pais, por isto, devem também atuar na abordagem sobre a sexualidade, buscando deixar claro aos seus filhos que seus corpos pertencem apenas a eles mesmos, e que, sendo assim, ninguém pode fazer com eles o que eles não desejarem. Além disto, os pais devem esclarescer que existem partes de seus corpos que devem ser protegidas, pois são áreas especiais, áreas de prazer, e que existem pessoas que se aproveitam de crianças e adolescentes, enganando-as, iludindo-as, com o único intuito de obter prazer próprio através do corpo das suas vítimas.

Casos conhecidos do público podem ser levados para casa e para a escola, como estímulo para o diálogo sobre o assunto. Casos como o da nadadora Joanna Maranhão, em Recife/PE, e da garota austríaca, que ficou 24 anos presa no porão de sua casa, encarcerada e abusada pelo pai, de quem engravidou 7 vezes.

Se as crianças e adolescentes souberem de seus direitos; se sentirem confiança nos pais e/ou professores para contar-lhes situações "estranhas", sem medo de achar que os "adultos" dirão se tratar de "fantasias" ou "mentirinhas"; se existe consciência de que o meu corpo é só meu, e sou eu quem decido o que vou fazer, ou deixar que façam, com ele; com estas certezas, muitas pessoas poderão se esquivar de abusos, de violências, crescendo mais seguras de si, com a auto-estima preservada, longe dos pesadelos e das dores, das marcas e lembranças que ficam após a vivência de abusos sexual.

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