sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Ensaio sobre a lucidez (continuando a reflexão)

(O pior cego é aquele que não quer ver)

Pra quem leu ou assistiu o filme "Ensaio sobre a cegueira" e quer saber o aconteceu depois, nesta cidade sem nome, indico o livro
"Ensaio sobre a lucidez".

"Uma manhã as ruas da capital apareceram invadidas por gente que levava ao peito autocolantes com, vermelho sobre negro, as palavras, Eu votei em branco, das janelas pendiam grandes cartazes que declaravam, negro sobre vermelho, Nós votamos em branco, mas o mais arrebatador, o que se agitava e avançava sobre as cabeças dos manifestantes, era um rio interminável de bandeiras brancas que levaria um correspondente despistado a correr ao telefone para informar o seu jornal de que a cidade se havia rendido."
(SARAMAGO, 2004, p. 74).

Quando a cegueira branca assolou o país, os "loucos" foram confinados em um manicômio, passando a enxergar, com intensa e dura clareza, as "verdades" humanas, todos os seus atos mais primários, todas as suas fraquezas, maldades, bondades e superações. Enxergar, com tamanha amplitude, levou à cegueira da mulher do médico - cansada de ver a realidade...
Fez, também, com que algumas pessoas - da capital - enxergassem melhor a vida, o mundo, seu país, sua cidade... talvez por isto, tantos - 83%!!! - resolveram votar em BRANCO: a cor da "loucura" mais sábia já conhecida...

Natalie S. Dowsley.

1º texto sobre o livro:
2º texto:

Psicoterapia

Muitas pessoas precisam de psicoterapia. Mas, então, porque não procuram os psicólogos?
Não sou inocente - não a esse ponto! - de culpabilizar apenas a sociedade - porque é preconceituosa -, o capitalismo - porque é cruel e injusto, criando necessidades e prioridades que se posicionam, muitas vezes, acima até da própria saúde emocional do sujeito - ou a nossa cultura - onde reinam o machismo e a hipocrisia.
Não, a "culpa" nunca é unilateral.
É fato que, diante de tantos apelos consumistas, muitas pessoas preferem comprar novas roupas todo mês, a pagar 4 sessões psicoterapêuticas. É fato, também, que a cultura impregnada de um machismo infeliz, dificulta o acesso de homens aos locais de saúde, especialmente os destinados à saúde mental/emocional.

Contudo...

O problema também reside na Psicologia.
Muita coisa pede reformulação, novos conceitos...
Os valores cobrados precisam ser repensados; os profissinais precisam ser mais abertos para negociação, sem perder a noção de que estão trabalhando e, por isso, merecem ser pagos...
Os orgãos representantes da profissão precisam se empenhar mais em "apresentar" a psicologia à sociedade, inclusive a profissionais de saúde de outras formações, como médicos, fisioterapeutas, nutricionistas, etc. Porque não existem congressos apenas de saúde, e não segregações: "V congresso norte-nordeste de psicologia"; "X congresso brasileiro de geriatria"; "IX encontro nacional de educadores-físicos" ?...
Se todos os profissionais soubessem da importância da psicologia, certamente a população seria/estaria mais esclarescida e, consequentemente, a procura pelo serviço seria maior.

Mas, pra mim, há algo essencial a ser pensado.
A prática profissional dos psicólogos. Aliás!, deles apenas, não! De vários profissionais de saúde, que lidam com o humano em sua fragilidade, em um momento de vida onde precisa não só de atendimento e "cura", mas de HUMANIDADE.
O que precisamos, hoje, é de pessoas, de gente! Precisamos chegar nos hospitais e nos deparar com recepcionistas, enfermeiras, assistentes sociais, médicos, maqueiros... todos dispostos a nos ajudar, a nos acolher, a cuidar!
Porque a função profissional do maqueiro, por exemplo, pode ser descrita na carteira de trabalho "apenas" como: "carregar pacientes, em macas, para os locais adequados de atendimento médico"... mas, na prática, quem já teve um parente sendo carregado por um maqueiro sabe que muitas outras coisas deveriam estar incluídas na obrigação profissional: "simpatia, presteza, compreensão, delicadeza, gentileza, paciência com os familiares, disponibilidade e cordialidade". Enfim, HUMANIDADE!
É aquela velha historinha: se fosse minha mãe naquela maca, eu carregaria com cuidado, trataria-a bem durante o percurso, conversaria e acalmaria a família dela... ou faria apenas o "meu trabalho"...?
Sabe o nome disso? EMPATIA. A sabedoria de se colocar no lugar do outro, imaginando como eu gostaria que fosse comigo, com minha família, e fazendo o mesmo com os outros... fazendo somente o melhor que eu puder fazer.
Empatia é humanidade?! SÓ É!!!

Precisamos, todos, escolher nossos profissionais não apenas pelo diploma de mestrado, doutorado... o mais importante, o que faz a diferença, é a humanidade, o cuidado com o cliente/paciente, o amor ao outro, o querer-bem. Isso é que cativa a pessoa que busca ajuda... e isso faz toda a diferença na recuperação plena do ser-humano, pois somos seres de relação, somos seres de contato...

E tudo isso surgiu, como sempre, de uma série de vivências: no hospital, pela cirurgia que fiz recentemente, onde quase todas as enfermeiras e os enfermeiros, os maqueiros, os médicos, os fisioterapeutas... quase todos foram muito atenciosos! De uma HUMANIDADE de primeira qualidade! E isso fez toda a diferença na minha estadia por lá!
Surgiu, também, da frase de Yalom, que reli hoje, por acaso, quando ele fala sobre o encontro entre cliente e terapeuta:

"Esse encontro, o verdadeiro âmago da psicoterapia, é um encontro afetuoso, profundamente humano entre duas pessoas, uma delas (geralmente, mas nem sempre, o paciente) mais perturbada do que a outra." (O Carrasco do Amor, 2007, p.21).

Pois é...
Em minha prática profissional procuro aprimorar minha humanidade... mas sei que muitos profissionais não agem assim... Defendem: "o profissional tem que ser direto, impessoal, competente sem perder a postura..."
Fico pensando, cá com os meus botões: eu não saberia conversar com uma pessoa assim!... Preciso de GENTE! Gosto de falar com humanos (antes da profissão, somos "gente"!), não com "profissionais" apenas...

Em favor da psicologia!: existem bons psicólogos, que olham nos olhos e respondem perguntas com delicadeza... e nem todos cobram "os olhos da cara"... e mais!
PSICÓLOGO NÃO É PRA DOIDO! rs!

Natalie S. Dowsley.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

O Amor!

Foto: "O chão aparou" - Rita Apoena
(Jornal das Pequenas Coisas)

amor, então,
também, acaba?
não, que eu saiba.
o que eu sei
é que se transforma
numa matéria-prima
que a vida se encarrega
de transformar em raiva.
ou em rima.
(Paulo Leminski)

Fonte: Blog Abre-te Sésamo

A quem possa interessar... =)

Farei uma cirurgia, dia 18/02, e estarei ausente por uns dias... ausente mas FELIZ! ;)

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

A educação

Se você é gordinho, seu nome vira "elefante";
se você é magrinha, torna-se "Olívia Palito";
se é tímido, apanha dos colegas;
se é estudioso, é o "CDF"...

Na escola, começamos a descobrir que somos muito mais do que os nossos pais nos dizem,
muito mais do que nossa família nos ensina ser:
na escola, passamos a assumir papéis, mesmo que involuntariamente,
que nos exigem "máscaras" diferenciadas, e que podem nos causar muita dor...
Não somos mais apenas a prima legal, o filho teimoso, o sobrinho carinhoso...
Passamos a ser um monte de outras coisas, que dependem muito dos outros colegas com quem convivemos diariamente.

A educação inicial, da família, obviamente é essencial! É ela quem fortalece ou enfraquece, ensina ou desestimula, encanta ou assusta, as crianças diante do mundo e todos os seus estímulos.
Contudo, a escola tem um lugar crucial na formação do ser humano, especialmente no contexto atual e ocidental.

Por isso, as escolas, hoje, precisam repensar suas atuações. O mundo mudou: os prazeres são outros, os perigos são outros... e a escola parece "perdida" diante da demanda contemporânea.
Bullying, Anorexia, Bulimia, Obesidade, Abuso sexual, Tráfico de crianças, Assédio via internet...
Tantos "temas" novos, inusitados, e tão pouco - ou nada! - abordados pelas escolas...

Foi-se o tempo em que o grande tema, difícil e cheio de tabu, a ser tratado com os alunos - só os adolescentes! - era a sexualidade, o uso da camisinha... Foi-se o tempo!

Hoje, sabe-se que a sexualidade, por exemplo, deve ser um tema constante na vida escolar das crianças e adolescentes, desde bem cedo, já que vivenciamos nossa sexualidade desde poucos meses de vida - os prazeres do nosso corpo são descobertos desde cedo, de formas variadas, e tudo isso faz parte da vivência da sexualidade... .

As escolas precisam, então, fazer uma reforma sobre suas propostas de intervenção, compreendendo todas essas novas demandas.
Os educadores precisam se aprimorar, também, e tomar conhecimento sobre os atos que caracterizam o Bullying e qual a postura adequada a ser adotada; quais os "sinais" que uma criança pode emitir quando abusada sexualmente; quais os comportamentos que revelam um possível transtorno alimentar, etc.

As escolas, professores, pais, precisam comungar desta necessidade de atualização; precisam se unir em busca de uma educação mais profunda e verdadeira, que realmente fortaleça as crianças através da conscientização e humanização, permitindo que o mundo, a partir das vivências escolares, seja compreendido como um lugar que possui seus encantos e perigos, e que pode ser experimentado com responsabilidade e segurança. Crianças bem informadas, educadas, tornam-se mais fortes diante dos problemas do mundo, e, sem dúvidas, cidadãos mais conscientes de seus papéis.

Natalie S. Dowsley.

p.s.: Sempre que um caso de violência contra crianças surge na mídia, sinto necessidade de retomar o assunto por aqui... Acho que ainda existem muitas brechas na nossa educação, que facilitam o acontecimento de agressões contra crianças e, principalmente, a manutenção de um silêncio doloroso, por parte da vítima... Precisamos, URGENTE, atualizar nossa educação!

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Lya Luft

Para minha amiga linda, Po-Poli!, que me mandou esse texto no dia da luta antimanicomial (18/05, na ocasião, de 2005), pedindo que o guardasse para a nossa formatura! =)
(Poli, me esqueci de usá-lo em nossa formatura! rs!)

"A vida é recriar-se, pois ela não está aí apenas para ser suportada nem vivida, mas elaborada. Eventualmente reprogramada, conscientemente reprogramada, conscientemente executada, muitas vezes 'ousada'.

E que o mínimo que a gente faça, seja a cada momento, o melhor que afinal se conseguiu fazer (com muito valor e não de cabeça baixa e simplório demais)."

(Lya Luft)

Bochenski

Encontrei umas páginas guardadas, com textos interessantes, que não via há tempos...
Coloquei aqui pra não perdê-los mais de vista. =)

"Quem julga que conhecemos tudo e que o conhecemos perfeitamente e que somos capazes de comunicar tudo o que conhecemos, comete um exagero não menor e não menos falso que a dos céticos.
A verdade é que nas questões filosóficas nada é simples. Toda solução simples é uma solução falsa. (...)
A realidade é terrivelmente complexa, e a verdade sobre ela também deve ser terrivelmente complexa. Só por um trabalho longo e árduo pode o homem apropriar-se de uma parte dela, não muito, mas sempre alguma coisa."

(J.M. Bochenski)