domingo, 29 de maio de 2011


Não, meu Coração! Não me peças respostas
porque sou feita, por inteiro, das perguntas silenciadas!
Minha música são os sentimentos perdidos,
a confusão de palavras, o vento que se perdeu do caminho,
a estrada que vai dar não se sabe onde...

Não, Coração, não enches de angústia esse corpo
que te acalenta!
Não me pedes uma paz que não existe,
uma ordem que desconheço,
uma felicidade que meus dedos não alcançam.

Sabes, Coração, que sou feita de qualquer coisa perecível,
que derrete com palavras doces e que endurece como a carcaça da barata,
que Lispector tão bem definia,
para proteger-me de mim mesma diante das dores que o mundo denuncia.

Se eu e tu fôssemos um só, Coração,
seria doloroso viver; seria duro seguir em frente.
Por vezes seria bonito, Coração, olhar as pessoas pelo teu prisma,
e ver cores no cinza do dia, e ver estrelas nas noites nubladas.
Seria como é: antítese e mistério.

Luto para dominar-te, Coração,
mas tens uma força que desconheço!
Por mais que eu te diga que não valho à pena, insistes
em me acompanhar, em seguir ao meu lado,
em se entregar às minhas loucas passagens pelo mundo...

Outra coisa não posso dizer de ti, Coração, se não que és corajoso.
Admiro-te por isso, mas temo por tua sanidade: até quando
restarás inteiro, cacos tantas vezes destroçados e colados,
destroçados e colados, destroçados e colados?!... destroçados...

Em algum momento, Coração, será que conseguirei te dar a paz
que procuras e me pedes todos os dias?
Será que te darei todas as respostas indecifráveis e contidas?
Saberá Deus o que vai ser de nós, Coração... Eu e tu...
Juntos, somos esse "isso" que desconheço, que me assusta,
que é o que sou, apesar de tudo.

Sozinha, será que eu existiria?
Sozinha, não seria o que sou:
um girassól de contrastes: fortaleza do caule,
leveza das pétalas;
ilusão da inflorescência,
beleza do mistério das verdadeiras flores escondidas
por trás das folhas modificadas.

Sobreviventes, seguimos em nosso caminho sem rumo,
Coração.
E enquanto houverem dúvidas e incertezas,
saberei de nossa existência
e poderei dizer: há vida, exatamente como fruto de todo o caos que nos habita.

Natalie S. Dowsley

sábado, 14 de maio de 2011

Ana Jácomo

Para não perder de vista, compartilho um texto lindo de Ana Jácomo, exposto no blog de uma amiga muito querida, Patrícia: http://patricia2709.blogspot.com.


"Não sei exatamente em que momento comecei a despertar. Só sei que não importam todos os rabiscos que já fizemos nem todos os papéis amassados na lixeira, porque todo texto bom de ser lido antes foi rascunho. E, por mais belo que seja, é natural que, ao relê-lo, percebamos uma palavra para ser acrescentada, trocada, excluída. A ausência de uma vírgula, a necessidade de um ponto, uma interrogação que surge de repente...

Viver é refazer o próprio texto muitas, incontáveis, vezes.

Não sei exatamente em que momento comecei a despertar. O que sei é que não quero aquele sono outra vez..."

Ana Jácomo
(http://anajacomo.blogspot.com/)

Na verdade, por mais prazeroso ou doloroso que seja, depois de sujar de amarelo a ponta dos dedos, não há mais como fugir do desejo de ter o sol nas mãos...
Quando experienciamos algo, não há mais como voltar atrás e ser o que se era antes.

Eu, por mais doído que seja, não quero mais viver sem ter essa VIDA (energia, luz, movimento) que conheço hoje. Não há mais como voltar atrás e abdicar disso... "Não quero aquele sono outra vez".