terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Os sonhos

O lugar dos sonhos não é no coração.
Lá já habitam as paixões, os desejos secretos,
os amores verdadeiros.
O lugar dos sonhos não é ao lado
da razão.
Lá já vivem os conceitos que limitam,
as medidas e normas que definem,
as paredes que cerceiam...

A moradia ideal para um sonho
são as nuvens.
Lá, o sonho sonha acordado,
cercado de estrelas
mesmo quando há céu nublado.
Nas nuvens, o sonho voa,
alcança as alturas,
e se precipita, sobre nós,
na hora certa,
em forma de chuva.

Os sonhos que vivem nas nuvens são mais felizes.
Conseguem flutuar pelo mundo,
sem limites nem fronteiras;
podem subir, subir,
e ninguém os segurará!
Os sonhos, diferentes das pipas,
não vivem presos a fios que os impedem de voar.
Os sonhos são livres.

Os meus sonhos eu coloco
sempre que posso
em uma nuvem bem fofinha,
que suba leve e tranqüila,
e que os carregue com o vento.
No céu, meus sonhos estão no lugar certo,
acima de mim e de tudo o que faço.

Meus sonhos me olham de longe,
e me aquecem por dentro;
são bússolas que me orientam,
são sombras em dias de sol quente.
Meus sonhos e suas nuvens
seguem comigo pra onde vou
e me conduzem,
com paciência,
à vida que me faz feliz.

De cima e sem pressa meus sonhos acompanham meus passos
e me impedem de desistir de dançar as músicas da vida,
mesmo quando perco o ritmo, erro o compasso.
Minha vida se renova sempre que um novo sonho brota,
e, por isso, cuido de cada um deles,
com intensidade e amor,
podando o necessário mas
principalmente
iluminando-o e enchendo de cor.


Natalie S. Dowsley.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Carta

(Foto: Rita Apoena - www.pequenascoisas.com.br)

Carta para mim e para você

Como diria Drummond,
um gênio o cara que dividiu o tempo em dias, meses, anos...
Assim a esperança pode se renovar,
quando estivermos esgotados (ou quase...),
no novo ano que nasce...

O meu novo ano já está cansado.
Coloquei nele tantas expectativas
que acho que o coitado deve estar com problemas de "nervos".
São tantos sonhos, tantas necessidades,
tantas urgências!!!...
Que 2009 se sobrecarregou.

Então, hoje não quero me desejar
um ano novo repleto de sonhos, de realizações!...
Quero pedir para nós dois, querido 2009,
dias de paz e paciência,
serenidade e ponderação.
Quero a brisa do mar, apenas.
Nada de furacão!

Não quero pedir mudanças bruscas
de desejos ou comportamentos;
quero apenas o silêncio da tranqüilidade
e a voz gostosa e melódica do amor.

Desejo luz,
mas sem refletores e olhos ofuscados!
Desejo som,
mas com longos intervalos do silêncio tocado pelos deuses.
Desejo vida,
mas uma vida com a calma e leveza de uma valsa.

Se o seu ano novo já está, também,
cheio de expectativas, compromissos,
responsabilidades...
Desejo, também a você e ao seu 2009,
dias de muita paz!

Beijo a todos!
E obrigada pelo carinho de vocês!

Natalie S. Dowsley.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Clarice

"Não me dêem fórmulas certas,
porque eu não espero acertar sempre.
Não me mostre o que esperam de mim,
porque vou seguir meu coração!
Não me façam ser o que não sou,
não me convidem a ser igual,
porque sinceramente sou diferente!
Não sei amar pela metade,
não sei viver de mentiras,
não sei voar com os pés no chão.
Sou sempre eu mesma,
mas com certeza
não serei a mesma pra SEMPRE!"

(Clarice Lispector)

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Policiais

Fico muito feliz ao ver boas pessoas iniciando a vida profissional na polícia pernambucana.
Os índices de violência têm aumentado muito. E, parece-me, a polícia, como corporação, ainda tem dificuldades para perceber que a violência não será resolvida com mais violência.
Não é de pessoas "fortes", agressivas, violentas, que precisamos para "conter" os problemas do mundo...
Não é de sprays de pimenta, de cacetetes, de camburões, que precisamos.

Precisamos de GENTE.

Precisamos urgentemente de pessoas capazes de serem HUMANOS.
Pessoas que possam cuidar dos outros, que possam ouvir antes de agir, pensar antes de agredir.
Sentimos falta de pessoas que se dêem bom-dia, quando se vêem; que sorriam e sejam cortezes ao receber pedidos de ajuda; que saibam ser empáticos, agindo com os outros como gostariam que agissem com seus familiares, amigos, pessoas queridas...

Precisamos de policiais humanos, que sejam pessoas, e não meros robôs reprodutores da violência, humilhação, autoritarismo e arrogância que são vistos, muitas vezes, ao longo da formação dos policiais, nas academias e cursos cada vez mais curtos...
Precisamos de gente nova, disposta a mudar a realidade, e oferecer à população aquilo que sempre sentiu falta enquanto era "civil": respeito, segurança, humanidade.

Bem-vindos, novos policias de PE.


Natalie S. Dowsley.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Charlie

"... Ele foi reprovado em todas as matérias na sétima série. Foi reprovado em física no científico, com nota zero. Sparky também foi reprovado em latim, em álgebra e em inglês.

Nos esportes, ele não foi nada melhor. Conseguiu entrar para o time de golfe da escola, mas perdeu o único jogo importante da temporada.

Quando promoveram um jogo de consolação, ele também perdeu.

Durante todo o tempo na escola, Sparky teve problemas com sociabilidade. Os outros alunos nem chegavam a não gostar dele, porque ninguém lhe dava importância suficiente para isso.

Se algum colega lhe cumprimentasse, fora do horário de aula, era uma surpresa para Sparky. É como se ele não existisse.

Não se sabe como foi sua vida sentimental, mas ele nunca convidou uma garota para sair, durante todo seu tempo na escola. Tinha medo de ser rejeitado.

Ele era um perdedor. Todo mundo sabia disso. Até ele mesmo. Mas havia uma coisa muito importante para ele: desenhar. Seus desenhos eram seu orgulho.

Certo é que ninguém, além dele mesmo, gostava dos desenhos. No último ano do científico, ele ofereceu alguns quadrinhos para os organizadores do livro de formatura. Os quadrinhos foram rejeitados.

Mas Sparky estava convencido de seu talento e resolveu se tornar um artista profissional.

Escreveu uma carta para os estúdios Walt Disney. Pediram que mandasse umas amostras do seu trabalho e sugeriram um tema para ele desenvolver. Ele desenhou os quadrinhos propostos. Trabalhou durante largo tempo.

Esmerou-se tanto que acrescentou uma série de outros quadrinhos, além dos solicitados.

Finalmente, quando recebeu a resposta dos estúdios Disney, descobriu que fora rejeitado.

Mais uma derrota para o perdedor.

Ele decidiu, então, escrever sua própria biografia em quadrinhos. Descreveu a si mesmo quando criança – um garoto perdedor e que nunca conseguia se sobressair.

Logo, o personagem de quadrinhos se tornaria famoso no mundo todo. Isto porque Sparky, o garoto para quem tudo dava errado, cujo trabalho fora rejeitado vezes sem conta, era Charlie Schulz.

Isso mesmo: o criador da tira Peanuts, do cachorro Snoopy e do pequeno personagem Charlie Brown. Um garotinho cuja pipa nunca voava e que nunca conseguia chutar uma bola de futebol.

Uma tira que encantou e continua encantando gerações.

Sparky perseguiu seu sonho e não se deixou intimidar pelas opiniões dos outros. Foi assim que ele se transformou num vencedor. "


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"Tudo é uma questão de manter
A mente quieta,
A espinha ereta
E o coração tranqüilo".

(À minha amiguinha, Aline, por estar de volta e sempre presente em minha vida!
Obrigada pelo texto lindo, "sequestrado" do seu Orkut! =)

sábado, 13 de dezembro de 2008

Helen Keller

O que eu faria se, ainda bebê, me tornasse: SURDA E CEGA?
E, devido à surdez tão precoce, não soubesse falar?
Como poderia me comunicar com as pessoas que amo?
Como poderia amar, se não me comunico?

O que fazer para pedir um colo? Ou, mais, para dar-me conta de que quero um "colo"?
Como te dizer que te amo, se não sei falar? Se não sei nem se você vai estar atento, se vai me entender?
Não te vejo, não te ouço... nem me vejo e me ouço...
Estou presa num mundo que parece perdido, morto...

O que eu faria para me descobrir?
Para lembrar que aquele líquido gostoso, mesmo sem gosto,
é "água"... e que ela significa tanto para você, para mim... ?

A resposta de alguém que viveu tudo isto?:

“Não há barreiras que o ser humano não possa transpor.”
(Helen Keller)

Helen Keller, devido a uma doença, tornou-se cega e surda com poucos meses de vida. Passou muitos anos perdida em si mesma, sendo cuidada, porém não "escutada", não compreendida...
Seus pais também desejavam compreendê-la... mas, como?
Anne Sullivan foi a primeira pessoa a conseguir se comunicar, verdadeiramente, com Keller.
Esta história pode ser conhecida através do filme: "O Milagre de Anne Sullivan" ou através da autobiografia de Helen Keller, "A história da minha vida".

"Nunca se deve engatinhar quando o impulso é voar."
(Helen Keller)

O copo d'água

" O COPO D'ÁGUA

O velho Mestre pediu a um jovem triste
que colocasseuma mão cheia de sal em um copo d'água e bebesse.
- "Qual é o gosto?" perguntou o Mestre.
- "Ruim " disse o aprendiz.
O Mestre sorriu e pediu ao jovem que pegasse
outra mão cheia de sal e levasse a um lago.
Os dois caminharam em silêncio e o jovem jogou o sal no lago,
então o velho disse:
- "Beba um pouco dessa água".
Enquanto a água escorria do queixo do jovem, o Mestre perguntou:
- "Qual é o gosto?"
- "Bom!" disse o rapaz.
- Você sente gosto do "sal" perguntou o Mestre?
- "Não" disse o jovem.
O Mestre então sentou ao lado do jovem, pegou sua mão e disse:
"- A dor na vida de uma pessoa não muda.
Mas o sabor da dor depende do lugar onde a colocamos.
Então quando você sentir dor, a única coisa que você deve fazer
é aumentar o sentido das coisas.
Deixe de ser um copo.
Torne-se um lago..."

(autor desconhecido)

Obrigada, Daviane,
por compartilhar sempre mensagens tão bonitas como esta!

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Oferto-te meu dedo, ó verde!

Acontece com algumas pessoas:
um belo dia, comum
como outro dia qualquer,
uma parte de si sinaliza
que é vivo e tem vida
disponível pra ofertar ao mundo.

O sinal pode surgir
durante um sonho, indecifrável;
durante uma caminhada, cansaço;
ou diante de um dedo verde...
espanto!

O verde, esperançoso,
avisa que chegou para ficar:
já é sinal de maturação,
e não haverá mudanças de tonalidade.
O maduro será, como é, verde.

E a pessoa, amedrontada,
aponta o verde do dedo
pra a alma funda,
pergunta:
"Que faço contigo,
meu dedo em feitiço?"

O dedo silencia ao coração.
O corpo se conduz pelo ser,
paixão,
e ambos são guiados pela magia,
em direção àonde o vento levar...

O menino aponta a fé
em minha direção.
Silêncio.
Flores brotam do meu estômago,
absurdo!
E eu sorrio como nunca:
cócegas!

Todos vêem e alegram-se também,
e o dedo verde se levanta, confiante,
e dispara gases lacrimogêneos...
força que nos faz chorar
de tanto sorrir.

O dedo verde embeleza minha alma,
o hospital, o presídio,
o bem, o mal.
O dedo verde ensina mais do que pretende,
e cura mais do que imagina.

E o menino, outrora rico,
ganha da vida o dedo-esperança
e oferece ao mundo toda a sua maior riqueza,
tornando-se uma pessoa ainda mais rica, afinal.

 Natalie S. Dowsley
(Sobre o livro "O menino do dedo verde", de Maurice Druon)


“– Mamãe, vi um filhote de furacão,
mas tão filhotinho ainda,
tão pequeno ainda,
que só fazia era rodar
bem de leve
umas três folhinhas na esquina...”

(Clarice Lispector)

("Roubei" do blog "Verdando"!
Presente lindo, de Eline Barreto!
Obrigada pelo carinho!!!

Ariadne

Ariadne sabia
Do caminho tortuoso
Que por ele esperava:
Mesmo assim,
Ariadne o esperou.

Ela sabia que a estrada,
Longa e atormentada,
Que Teseu experimentava,
Poderia machucá-lo...
E, talvez, até nem devolvê-lo, inteiro.

À porta da caverna escura,
Com as mãos em oração e reserva,
Segurando o fio invisível
Que garantia a sobrevivência dele,
Ariadne contava as lágrimas da morte iminente.

Teseu arriscara tudo
Quando resolveu mergulhar
Naquele mundo desconhecido,
Habitado por monstros muito maiores
Que Minotauros...

Contudo, arriscar-se era necessário.
Ele precisava descobrir o que havia
Ali dentro
Que tanto amedrontava homens...
Ali dentro... deles mesmos.

Afundou, adentrou naquele caos.
Encontrou-se com seus mortos.
Sepultou as fantasias sobre os monstros da caverna.
Recobrou sua sanidade.
Retornou, plenamente.

Não deixou muita coisa.
Mas levou tantas outras!
Limpou o que era preciso,
Abandonou o que não tinha sentido...
E voltou, unido ao frágil fio da vida.

Ariadne, ser de força e determinação,
O esperava, escondendo a face de dor,
Pondo a máscara da certeza de que tudo daria certo.
Ela sabia que era preciso.
E, precisamente, seguiram, mãos dadas, rumo à vida.


Natalie S. Dowsley

domingo, 7 de dezembro de 2008

O Mundo é Bão Sebastião
(Nando Reis)

"Por que o Sol saiu
Por que o seu dente caiu
Por que essa flor se abriu
Por que iremos viajar no verão
Por que aqui o mundo não será cão

O mundo é bão, Sebastião
O mundo é bão, Sebastião
O mundo é bão, Sebastião
O mundo é teu, Sebastião

Quando o Goodzila atacar
Quando essa febre baixar
Quando o mamute voltar
Descongelado a caminhar na Sibéria
Quando invento, o mundo é feito de idéias

O mundo é bão, Sebastião
O mundo é bão, Sebastião
O mundo é bão, Sebastião
O mundo é teu, Sebastião

Como escrever certo o seu nome
Como comer se der fome
Como sonhar pra quem dorme
E deixa o cansaço acalmar lá em casa

Como soltar o mundo inteiro com asas
Tiranossauro Rex tião
Dentro dos seus olhos virão
Monstros imaginários ou não
Por forte somos todos outros Titãs
E a vida assim irá sarar, virá sã

O mundo é bão, Sebastião
O mundo é bão, Sebastião
O mundo é bão, Sebastião
O mundo é teu, Sebastião"

A Natureza das Coisas

"Se avexe não...
Amanhã pode acontecer tudo
Inclusive nada.

Se avexe não...
A lagarta rasteja
Até o dia em que cria asas.

Se avexe não...
Que a burrinha da felicidade
Nunca se atrasa.

Se avexe não...
Amanhã ela pára
Na porta da tua casa

Se avexe não...
Toda caminhada começa
No primeiro passo
A natureza não tem pressa
Segue seu compasso
Inexoravelmente chega lá...

Se avexe não...
Observe quem vai
Subindo a ladeira
Seja princesa, seja lavadeira...
Pra ir mais alto
Vai ter que suar"


(Acioly Neto)
Pra refrescar
um banho de chuva,
um beijo molhado,
um banho gelado quando de cabeça quente.

Pra refrescar,
uma bola de sorvete,
um sorriso verdadeiro,
uma sombra num dia de verão.

Pra refrescar,
uma piscina grande e azul,
um abraço de saudade,
um poema de amor.

Pra refrescar,
eu, você e uma água de coco,
um mergulho no fundo um do outro,
um domingo que se eterniza num encontro.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Liberdade é responsabilidade

Não sei exatamente porque
Mas somos seres habituados
À rotina.

Por mais que busquemos atividades diferentes,
Por mais que façamos coisas diferentes diariamente,
Mesmo que nosso dia-a-dia seja,
A cada dia, algo novo;

Mesmo assim, somos seres de rotina.

Precisamos nos acomodar,
Minimamente,
Em posições familiares,
Ao menos para não nos perdermos de nós mesmos.

Buscamos homogeneizar
Nossas ações, nossos pensamentos,
Desejando formar e nos convencer de que há
Uma identidade propriamente nossa.

Caminhando a passos largos,
Ou lentamente,
Com todas nossas diferenças
Buscamos certezas sobre o que somos realmente.

O perigo da existência humana está
Justamente no afã de nos imortalizar
Pois para isso nos acostumamos a repetir ações e pensamentos,
Por mais irracionais e pouco saudáveis que estes sejam...

Repetimos palavras,
Ecoamos pensamentos
E nos prendemos, sem perceber,
A uma prisão feita de nós, por nós mesmos.

Acomodamo-nos às coisas familiares,
E, aprisionados,
Seguimos repetindo o que poderia se interromper...
Se ousássemos mudar.

Mas mudanças podem nos afastar
Da ilusão que pensamos ser,
E nos perder da identidade
Que levamos anos para tecer.

Quando, impetuosamente maduros,
Ousamos nos libertar dos estereótipos,
Entendemos que os limites que nos constituem,
Na verdade, nos destroem...

Livres, compreendemos que somos seres de mudança,
E que ter identidade não é limitar-se
À solidão e fria figura de uma estátua:
Ter identidade é, simplesmente, ser.

Metamorfoseando-nos, a todo instante,
Nos tornamos sempre mais nós mesmos,
Cada vez mais próximos, pelas semelhanças e diferenças,
Dos outros que somos em parte.

Conscientes de que mudamos, a cada segundo,
Desde a pele até a alma,
Nos responsabilizamos pelo que nos tornamos,
Escolhendo com sabedoria cada passo dado à vida.

Natalie S. Dowsley.

Como nossa flor

Sou como aquela flor,
Que avisto adiante:
Por fora, pétalas e pétalas
De uma folhagem escura
E grossa, protegida.

Por dentro,
Pedacinhos de uma natureza
Frágil e sensível,
Que esforçasse para ser, para sempre,
Perfumada aos teus sentidos.

Sou como a flor que outrora me deste:
Antes pequena, escondida,
Temerosa, talvez, diante da vida;
Hoje, fortalecida: duramente maleável,
Presa a teu amor como Teseu à caverna de Minotauro.


Aquela flor, aquele fio que me ofertaste,
Me conduz, infinitamente,
Ao teu coração.
Através daquela flor,
Regaste em meu peito um mundo,
Fizeste do mundo nossa união.

Como aquela flor
Que avisto de longe
Tão perto,
Somos um: pétala por pétala,
Despetalados:
Nus e desprotegidos pelo amor.

Natalie S. Dowsley
(A Maycon)


quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

O que carrego comigo

O que carrego comigo

O peso que carrego
Há anos e anos
Não é feito de malas e
Problemas...

Arrasto, comigo,
Como parte que me compõe –
Uma parte que não me orgulho expor –
Um filho, uma família inteira!

Pai, mãe e filhos,
Nascidos de um mesmo dilema;
Frutos de mesmas dores,
Partos interrompidos pelo cansaço da caminhada.

Carrego comigo,
Não nas costas ou nas mãos,
Um mundo de pessoas
Familiarmente desconhecidas...

Os ombros seguem leves
E enganam os desavisados.
Até o espelho, inocente,
Se espanta justamente quando vê os olhos inchados.

O peso que arrasto
Segue-me como sombra
Entrelaçando minhas pernas
Deixando-me às vezes tonta.

Preenche-se como fosse
Um filho no ventre-invólucro
E abraça meus quadris
Como quem resiste em nascer.

Caminho pra onde posso
Levando comigo o filho abortado
Que não morrera...
Mas, também, não nascera...

Coloco o rebento para dormir
Na esperança de alcançar um minuto de paz.
Minhas pernas doem, cansadas,
E minh’alma segue, atroz.

Lutando para manter-me de pé,
A criança, hoje adulta,
Cresce cada dia mais
E me toma por inteira: cabeça, corpo, garganta.

Sei que para viver
Precisarei abdicar:
Ou vives tu, pequeno herdeiro do caos,
Ou vivo eu, beirando a loucura do cais...

Matar-te é destruir parte de mim.
Matar-te é assassinar
E suicidar,
Com a mesma bala...

Por isso o dilema,
Por isso a tristeza!
Porque para viver preciso te matar...
E te matar é também morrer.

Tenho, então, que desejar interromper tua gestação
Não por mim, pelos sorrisos que nunca darei,
Mas sim por outra,
Que ainda há de nascer quando eu morrer.

Outra que ocupará este corpo
Onde antes eu e tu habitávamos.
Outra, que herdará o estrago
Que tuas mãos, pesadas, fizeram ao meu corpo, frágil...

Essa outra poderá consertar-me
E fazer-me mais feliz
Mesmo que eu não exista mais,
Mesmo que eu hesite demais...

A felicidade da outra que ainda não vive
Será também a felicidade da que hoje fito ao espelho.
E as duas, mesmo sem saberem,
Carregarão, para sempre, uma e outra, no peito.

As cicatrizes da primeira
Servirão como troféu para a segunda;
E a felicidade das duas se fará
Quando aquele filho, nauseabundo, se desintegrar...

E ele ficará apenas na lembrança
De duas mulheres que lhe ninaram em parceria:
Uma, emprestando-lhe o corpo, destruído pelo peso;
A outra, libertando-o e a si mesmo, com o amor-próprio e a sabedoria.

Natalie S. Dowsley.


p.s.: Para os desavisados: não é um texto "deprimente"; é um texto de LIBERTAÇÃO. Pode crê que é um texto feliz! ;)

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

GENTILEZA

Imagem: Profeta "Gentileza"

"José Datrino nasceu em Cafelândia, interior de São Paulo, em 1917. Teve uma empresa de transporte de cargas e residia com sua família em Guadalupe. Seis dias depois do incêndio do Circo Norte-Americano, em Niterói, quando morreram 400 pessoas, Datrino mudou sua vida. Segundo ele, uma revelação fez com que deixasse tudo para a família e assumisse uma nova identidade: Jozze Agradecido ou Gentileza."
Inspirado em Gentileza, Marisa Monte escreveu e cantou a música "Gentileza": linda!
("O mundo é uma escola / A vida e um circo / Amor palavra que liberta / Já dizia o profeta.")


"Não é que o mundo seja só ruim e triste. É que as pequenas notícias não saem nos grandes jornais. Quando uma pena flutua no ar por oito segundos ou a menina abraça o seu grande amigo, nenhum jornalista escreve a respeito. Só os poetas o fazem."


Pois é...
Como seria bom se os jornais anunciassem,
se os repórteres brandassem,
se as capas de revistas declarassem, com letras garrafais:
"HOJE UM PASSARINHO POUSOU NO OMBRO DA GAROTA TRISTE".
E o mundo sorriria,
pois saberia que há esperança
para aqueles dias em que nossos olhos
são cachoeiras
que deixam cair suas águas,
límpidas, claras,
da alma para o mundo.

E a alegria preencheria nossos dias.
A fé se renovaria:
não em uma religião,
em crenças fanáticas:
a fé na vida!
Fé no universo,
nas pessoas,
na magia invisível que nos cerca.

Que bom seria
se os jornais vendessem mais
ao divulgar as mesmas notícias todos os dias:
"POLICIAL GENTIL ACOLHE SENHORA APÓS ASSALTO".

Mas parece que o mundo
está de cabeça pra baixo!
As notícias que "vendem"
são as que anunciam o contrário...

Ainda nos restam os poetas, as poetisas,
que preenchem nossos corações
com aromas da infância
e gosto de alegria.

Permitem que continuemos a crêr
no que nos enche de nostalgia:
aquele tempo, que ainda podemos resgatar,
em que a gentileza era regra
e o "bom dia", para todos,
nos preenchia de humanidade.

Natalie S. Dowsley