segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Sombra

Sombra

Você, que me acompanha aonde vou,
onde estou;
Você, que é tão igual a mim,
sendo um pouco mais
distante,
misteriosa,
obscura.

Quem será que fala a verdade
sobre mim:
eu
ou você?

Será que sou essa claridade,
esta obviedade?
Ou sou o desconhecido,
o impalpável,
o escondido?

Será que você me imita,
ou me revela?

Seus passos,
sempre tão precisos,
parecem mais firmes que os meus...

Você me segue,
ou eu te acompanho,
dançando sobre você?
Quem sabe...

Eu e você, juntos,
parecemos muito mais completos,
íntegros,
do que indivualmente,
porque unimos o que é palpável,
com o que antítese;
o que é pele,
com o que é música.

Simultaneamente somos
ações e compassos,
dança e magia,
toque e saudade.

Juntos, somos o que sou:
um furacão de contradições.

Natalie S. Dowsley.

Ícaro

Ícaro

Quero correr, fugir,
voar!
Quero mergulhar num buraco
quase sem fim,
e descobrir no fundo
o que há de mais óbvio.

Quero abrir cada portinha,
cada portão,
e me deparar com os monstros,
com dragão,
e não me surpreender!
Afinal, o que há de desconhecido ali?

Quero finalmente respirar
cada flor em preto e branco
e me desvencilhar das pétalas,
do passado,
do que não tem cheiro.

Quero tocar em cada poro
e libertar
cada lágrima, cada gota
de pensamentos sem fim,
sem utilidade.

Quero encarar no espelho
apenas um rosto,
o meu,
não aquela mistura de sentimentos,
um vulcão de pessoas,
de músicas, de lembranças.

Quero vestir a face mais suave
e mergulhar numa alegria quase ingênua!
Quero estar despida
de nudez, de temor, de aflição.
Quero estar livre!

Quero, finalmente,
fazer o que tantos fazem:
voar!
Não para longe!
Quero flutuar de leve
para bem perto, bem pertinho
de mim mesma

E tocar o ar que enche meu corpo
como um violino,
e esvaziá-lo,
libertá-lo,
permitindo que seu som,
o meu som,
seja lindo e claro, como hoje.

Quando tudo isto terminar,
quero começar incessantemente,
e nunca me cansar de correr atrás
das imagens, dos sonhos,
daquilo que o espelho, no fundo da buraco,
me disse, quando acordei.

E voar, voar, voar...
Até o sol derreter minhas asas...
E então,
satisfeita,
começarei de novo a construir minhas asas,
cada vez mais resistentes ao calor da vida.

Natalie S. Dowsley.

domingo, 12 de outubro de 2008

"Daquilo que eu Sei"

Daquilo que eu Sei
Ivan Lins

Daquilo que eu sei
Nem tudo me deu clareza
Nem tudo foi permitido
Nem tudo me deu
certeza


Daquilo que eu sei
Nem tudo foi proibido
Nem tudo me foi possível
Nem tudo foi concebido

Não fechei os olhos
Não tapei os ouvidos
Cheirei, toquei, provei
Ah! Eu usei todos os sentidos

Só não lavei as mãos
E‚ por isso que eu me sinto
cada vez mais limpo
Cada vez mais limpo...

Ana

Não sei quando nos conhecemos, exatamente.
Já faz algum tempo...
No começo, o controle estava em minhas mãos...
Hoje, ele se esvaio, derreteu...

Meu corpo é um simples retrato disto
que sou agora:
um vazio, uma ausência,
solidão.
Nem sei...

Uns se escondem, por trás de si mesmo,
camadas de lipídios...
Outros se escondem
na ausência de esconderijos,
proteção.


Somos todos diferentes,
inclusive nas semelhanças;
mas, quando conheci Ana,
percebi que posso tornar-me
igual a qualquer pessoa... igual a todos...
diferente de mim mesma...

Indiferente, caminhei em direção ao vazio
e meu corpo se desfez,
um eco de escuridão...

Ana...
Ela me corrói
e ainda não sei o que nos une.
Quando conseguir descobrir,
espero não sentir mas sua falta...

... e recuperar minh'alma dissipada.

Natalie S. Dowsley

Vamos brincar de esconde-esconde?!

Vamos brincar de esconde-esconde?!

Juntos
pode ser divertido.
Ponho minha máscara,
você põe a sua.
O jogo começa quando a caracterização termina.

Brincamos de fingir,
de improvisar mentiras tolas.
Sorrimos, quando deveríamos chorar.
E quando choramos,
fechamos os olhos,
para que ninguém possa nos encontrar.

Brincamos todos os dias,
durante o café, o jantar;
nos divertimos bastante
- ou será que é fingimento?
Não sei...

Além de nós,
aos lados e à nossa frente,
outras máscaras,
outras pessoas quase invisíveis
e indecifráveis.

Encarando o que não somos,
achamos que somos felizes.
E somos?
Talvez...
Bailes de máscaras podem ser divertidos...

Bailes de máscaras têm fim.

Que tal partirmos logo para o final da festa?

Natalie S. Dowsley.

sábado, 11 de outubro de 2008

Precisamos falar sobre o Kevin?

Precisamos falar sobre o Kevin?
16 anos.
Assassinato em massa.
Fama, jornais,
Tribunal.
Lágrimas, enterros.
Prisão.

Naquela quinta-feira morreram
Nove pessoas
Ou foram onze?!
Talvez,
Muitas mais!...

Morreram adolescentes,
Professora,
Funcionário da escola...
Morreram sonhos,
Tristezas, alegrias...
Ou, simplesmente,
O “nada” que invade,
Muitas vezes,
A mente juvenil.

Mas, até o “nada”,
Neste caso (em todos os casos?!),
É alguma coisa...
É muita coisa!

Morreram, também,
Pais, amigos, colegas,
Desconhecidos vizinhos,
Parentes distantes...
Morreram e não foram sepultados...
Suas valas,
Suas feridas,
Permanecem abertas...

Em terapia aprendemos que,
Apesar de buscarmos, com muito fervor,
Os porquês,
Em geral eles não mudam quase nada...
Em alguns casos,
Talvez seja até pior...
Melhor não saber o porquê,
Porque a explicação é fútil demais para o tamanho da dor...

Mas, por quê???
Por que Kevin age assim?
Por que tantas pessoas foram mortas?
Por que “garotos Columbine” teimam
Em continuar nos enchendo de “porquês”?

As respostas,
Melhor não descobrirmos...
Ou saberemos nossa culpa,
E o massacre continuará, dentro de nós,
Ou descobriremos que não haveria como
Evitar;
O inevitável não está ao nosso alcance...
E temeríamos, para sempre,
Nossas crianças...

Sim, precisamos falar sobre o Kevin...
Não para entendê-lo,
Não para descobrir o que ele tenta esconder...
(Brincar de esconde-esconde, agora, não parece adequado...)

Precisamos falar sobre o Kevin...
E, também, sobre nós.
Precisamos falar
Precisamos voltar a falar,
Verdadeiramente,
Uns com os outros,
Como se fazia, há alguns séculos,
Ao redor de uma fogueira.

Precisamos nos olhar,
Aquecer-nos,
Comunicarmo-nos.
Precisamos, urgentemente,
Falar sobre o Kevin,
Sobre o João,
Sobre a Maria,
Sobre mim e você...

Precisamos falar,
Com emergência,
Sobre a HUMANIDADE...
Não para compreendê-la,
Tocá-la ou aprisioná-la...
Apenas para
RECUPERÁ-LA.

Natalie S. Dowsley.
(Livro: Precisamos falar sobre o Kevin – SHRIVER, Lionel – Rio de Janeiro: Intrínseca, 2007)

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Vende-se entradas de uma festa que já passou!

Vende-se entradas de uma festa que já passou!

Tudo passa em nosssas vidas.
A maior alegria,
mesmo enchendo de sorrisos
muitos e muitos dias,
um dia passa,
e oferece lugar a novos sentimentos,
novas experiências.

A maior decepção,
o maior sofrimento,
o mais prolongado choro...
tudo passa!
Ficam as lembranças...
Algumas vezes, também
as cicatrizes...

Ruim é quando,
passando-se o tempo,
voando veloz,
em um tempo que não volta mais,
marcamos o passo e damos voltas
e rodopios
em torno de uma mesma saudade.

Parece que o tempo se vai,
mas nós ficamos...
As pessoas andam,
e nós escorregamos pela vida...
Parece que a dor teima em nos habitar,
ou a alegria de algo que não existe mais
insiste em viver,
mesmo sabendo que é apenas um falso brilhante.

É triste
quando a festa passa, o tempo caminha,
e nós continuamos anunciando
ingressos para uma festa que já se foi.
A alegria, o riso,
as lágrimas, a desilusão...
o que quer que o evento tenha nos fornecido,
ficamos presos
e dançamos, ainda, no ritmo de uma música
que não toca mais...

A vida continua
ao redor,
e é triste quando alguém
parece cegar para os novos brindes
de novas festas que acontecem
ou estão por vir.

Natalie S. Dowsley.

domingo, 5 de outubro de 2008

Celebrando-nos

Celebrando-nos

Teu sorriso, tua felicidade
Em cada luz irradia
minha alegria,
minha plenitude!

Não há realização
sem nós...
porque eu apenas
é uma ilha,
solidão.

Juntos
somos muitos,
somos todos,
o mundo gira.

Sós
somente grãos
espalhados
voando alheios...

Nós é algo grandioso!
Fortalece em momentos de dor
Aquece nos dias de frio.
Nós é sol que surge nas nuvens.

Tua alegria
Me faz compreender que não sou só
e que, só,
não sou nada.

(Natalie S. Dowsley)