segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Ícaro

Ícaro

Quero correr, fugir,
voar!
Quero mergulhar num buraco
quase sem fim,
e descobrir no fundo
o que há de mais óbvio.

Quero abrir cada portinha,
cada portão,
e me deparar com os monstros,
com dragão,
e não me surpreender!
Afinal, o que há de desconhecido ali?

Quero finalmente respirar
cada flor em preto e branco
e me desvencilhar das pétalas,
do passado,
do que não tem cheiro.

Quero tocar em cada poro
e libertar
cada lágrima, cada gota
de pensamentos sem fim,
sem utilidade.

Quero encarar no espelho
apenas um rosto,
o meu,
não aquela mistura de sentimentos,
um vulcão de pessoas,
de músicas, de lembranças.

Quero vestir a face mais suave
e mergulhar numa alegria quase ingênua!
Quero estar despida
de nudez, de temor, de aflição.
Quero estar livre!

Quero, finalmente,
fazer o que tantos fazem:
voar!
Não para longe!
Quero flutuar de leve
para bem perto, bem pertinho
de mim mesma

E tocar o ar que enche meu corpo
como um violino,
e esvaziá-lo,
libertá-lo,
permitindo que seu som,
o meu som,
seja lindo e claro, como hoje.

Quando tudo isto terminar,
quero começar incessantemente,
e nunca me cansar de correr atrás
das imagens, dos sonhos,
daquilo que o espelho, no fundo da buraco,
me disse, quando acordei.

E voar, voar, voar...
Até o sol derreter minhas asas...
E então,
satisfeita,
começarei de novo a construir minhas asas,
cada vez mais resistentes ao calor da vida.

Natalie S. Dowsley.

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