sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Psicoterapia

Muitas pessoas precisam de psicoterapia. Mas, então, porque não procuram os psicólogos?
Não sou inocente - não a esse ponto! - de culpabilizar apenas a sociedade - porque é preconceituosa -, o capitalismo - porque é cruel e injusto, criando necessidades e prioridades que se posicionam, muitas vezes, acima até da própria saúde emocional do sujeito - ou a nossa cultura - onde reinam o machismo e a hipocrisia.
Não, a "culpa" nunca é unilateral.
É fato que, diante de tantos apelos consumistas, muitas pessoas preferem comprar novas roupas todo mês, a pagar 4 sessões psicoterapêuticas. É fato, também, que a cultura impregnada de um machismo infeliz, dificulta o acesso de homens aos locais de saúde, especialmente os destinados à saúde mental/emocional.

Contudo...

O problema também reside na Psicologia.
Muita coisa pede reformulação, novos conceitos...
Os valores cobrados precisam ser repensados; os profissinais precisam ser mais abertos para negociação, sem perder a noção de que estão trabalhando e, por isso, merecem ser pagos...
Os orgãos representantes da profissão precisam se empenhar mais em "apresentar" a psicologia à sociedade, inclusive a profissionais de saúde de outras formações, como médicos, fisioterapeutas, nutricionistas, etc. Porque não existem congressos apenas de saúde, e não segregações: "V congresso norte-nordeste de psicologia"; "X congresso brasileiro de geriatria"; "IX encontro nacional de educadores-físicos" ?...
Se todos os profissionais soubessem da importância da psicologia, certamente a população seria/estaria mais esclarescida e, consequentemente, a procura pelo serviço seria maior.

Mas, pra mim, há algo essencial a ser pensado.
A prática profissional dos psicólogos. Aliás!, deles apenas, não! De vários profissionais de saúde, que lidam com o humano em sua fragilidade, em um momento de vida onde precisa não só de atendimento e "cura", mas de HUMANIDADE.
O que precisamos, hoje, é de pessoas, de gente! Precisamos chegar nos hospitais e nos deparar com recepcionistas, enfermeiras, assistentes sociais, médicos, maqueiros... todos dispostos a nos ajudar, a nos acolher, a cuidar!
Porque a função profissional do maqueiro, por exemplo, pode ser descrita na carteira de trabalho "apenas" como: "carregar pacientes, em macas, para os locais adequados de atendimento médico"... mas, na prática, quem já teve um parente sendo carregado por um maqueiro sabe que muitas outras coisas deveriam estar incluídas na obrigação profissional: "simpatia, presteza, compreensão, delicadeza, gentileza, paciência com os familiares, disponibilidade e cordialidade". Enfim, HUMANIDADE!
É aquela velha historinha: se fosse minha mãe naquela maca, eu carregaria com cuidado, trataria-a bem durante o percurso, conversaria e acalmaria a família dela... ou faria apenas o "meu trabalho"...?
Sabe o nome disso? EMPATIA. A sabedoria de se colocar no lugar do outro, imaginando como eu gostaria que fosse comigo, com minha família, e fazendo o mesmo com os outros... fazendo somente o melhor que eu puder fazer.
Empatia é humanidade?! SÓ É!!!

Precisamos, todos, escolher nossos profissionais não apenas pelo diploma de mestrado, doutorado... o mais importante, o que faz a diferença, é a humanidade, o cuidado com o cliente/paciente, o amor ao outro, o querer-bem. Isso é que cativa a pessoa que busca ajuda... e isso faz toda a diferença na recuperação plena do ser-humano, pois somos seres de relação, somos seres de contato...

E tudo isso surgiu, como sempre, de uma série de vivências: no hospital, pela cirurgia que fiz recentemente, onde quase todas as enfermeiras e os enfermeiros, os maqueiros, os médicos, os fisioterapeutas... quase todos foram muito atenciosos! De uma HUMANIDADE de primeira qualidade! E isso fez toda a diferença na minha estadia por lá!
Surgiu, também, da frase de Yalom, que reli hoje, por acaso, quando ele fala sobre o encontro entre cliente e terapeuta:

"Esse encontro, o verdadeiro âmago da psicoterapia, é um encontro afetuoso, profundamente humano entre duas pessoas, uma delas (geralmente, mas nem sempre, o paciente) mais perturbada do que a outra." (O Carrasco do Amor, 2007, p.21).

Pois é...
Em minha prática profissional procuro aprimorar minha humanidade... mas sei que muitos profissionais não agem assim... Defendem: "o profissional tem que ser direto, impessoal, competente sem perder a postura..."
Fico pensando, cá com os meus botões: eu não saberia conversar com uma pessoa assim!... Preciso de GENTE! Gosto de falar com humanos (antes da profissão, somos "gente"!), não com "profissionais" apenas...

Em favor da psicologia!: existem bons psicólogos, que olham nos olhos e respondem perguntas com delicadeza... e nem todos cobram "os olhos da cara"... e mais!
PSICÓLOGO NÃO É PRA DOIDO! rs!

Natalie S. Dowsley.

Um comentário:

Patrícia disse...

Legal, adorei suas considerações... Realmente a sociedade tem uma visão bastante distorcida do psi e, de fato, não há apenas um determinante para isso. beijão!!!