sexta-feira, 15 de agosto de 2008

A Roupa Nova do Rei


“A ROUPA NOVA DO REI ou REFLEXÕES SOBRE O QUE NÃO QUEREMOS VER”
Homero Reis

Era uma vez – toda boa história começa assim - um reino.
Um reino governado por um rei muito vaidoso que gastava todas as riquezas do reino com sua vaidade. Carros, jóias, viagens, massagens, banhos florais, plásticas e tudo o mais que pudesse fazer algum efeito em sua aparência. Mas, de tudo isso, o que ele mais gostava eram as roupas. Seu guarda-roupa vivia entulhado das mais finas e caras peças da moda. Aliás, isso era motivo de críticas severas de todos os seus assessores, sem falar dos inimigos políticos, que viam nessa prática bons motivos para desqualificá-lo.
O povo sofria com a falta de recursos, porque todas as riquezas eram gastas com a vaidade do rei e as coisas que precisavam ser feitas, não o eram. Mas, no fundo, no fundo, ele não era um mau rei. Desorientado, talvez!
Um dia, dois espertalhões, sabedores das loucuras desmedidas do rei por causa de sua vaidade apresentaram-se no palácio real como sendo grandes costureiros de uma longínqua terra mágica. Diziam-se capazes de fazer a mais bela de todas as roupas, uma roupa tão perfeita que tornava quem a usasse, incomparavelmente belo. O rei logo se interessou pelo assunto. Com uma roupa dessas ele seria muito mais feliz.
Assim, sem mais delongas, tratou de contratar os costureiros mágicos encomendando a mais bela e cara de todas as roupas. Assim, os costureiros começaram logo a trabalhar. Depois de tirar as medidas reais, passaram a produzir a tal roupa, trabalhando todos os dias com afinco e determinação, numa produção secreta de fazer inveja a qualquer trabalhador. O rei estava ficando ansioso porque o tempo estava passando e nada da roupa ficar pronta. O reino também estava vivendo a grande expectativa do dia em que o rei haveria de se apresentar vestido de tal beleza. Tamanha era a ansiedade que, um dia, o rei resolveu ir ver o que faziam os costureiros e em que pé estava a produção de sua roupa. Foi até o atelier e surpreendeu-se ao ver que nada estava sendo produzido. Não avistara nem um carretel de linha sequer. Não havia nem um botãozinho pra contar história. Imediatamente, cheio de raiva e frustração, foi ter com os costureiros para exigir deles uma explicação para aquilo.
- Senhores, disse o rei, como pode ser isso? Contratei-os para cozer uma roupa real, mágica e bela, mas vejo que nada está sendo feito!
- Perdoe-nos, Vossa Alteza, disseram os costureiros, mas tudo está sendo feito a seu tempo. Aliás, estamos adiantados na confecção de sua roupa mágica e podemos lhe assegurar que é a mais bela de todos os tempos.
- Como, se não encontrei nada no atelier?
- Sim, Excelência, porque a roupa está guardada em local seguro e, além do mais, por ser uma roupa mágica, só pode ser vista por pessoas inteligentes. Venha, vamos mostrá-la ao Senhor, embora isso não devesse ser feito antes de concluirmos os trabalhos.
Assim, levaram o rei a uma sala onde nada existia e, com enorme maestria, começaram a mostrar tecido que não se via, linha que não se via, desenhos e modelos que não se viam.
- Veja, Vossa Alteza, que belo recorte temos aqui. Certamente, sendo Vossa Alteza muitíssimo inteligente, pode perceber como ficou bonito esse detalhe nas mangas, esse corte no colarinho, essa combinação de cores.
O rei, como pessoa inteligente, passou a ver tudo, cores, tecidos, modelos...
Enfim, ficou pronta a roupa. Todo o reino estava ansioso por vê-la. O rei, orgulhoso de sua roupa, mandou que se fizesse uma festa nacional onde ele, vestindo a roupa mágica, iria desfilar para todos os súditos. Também deveria ser explicado que a roupa só poderia ser vista por pessoas que fossem inteligentes.
Os costureiros, depois de receberem uma fortuna pelo trabalho, entregaram a roupa mágica e partiram sem nunca mais serem vistos.
Dia da festa. Povo reunido, o rei vestindo a roupa que não se via, sai pelas ruas da cidade ostentando sua mais nova aquisição. Todos aplaudem e comentam sobre a beleza da roupa.
- Como ficou bem, diziam uns; que belas cores, afirmavam outros; que bom gosto, comentavam.
E transcorria a festa, repleta de gente e de comentários “inteligentes”. Até que, de repente, um súdito menos avisado, insurge na multidão e, percebendo toda a trama, grita: O REI ESTÁ NU!
Imediatamente, todos percebem o papel ridículo que estavam fazendo e o rei, ao contemplar sua nudez, descobre quão insensato estava sendo em sua vaidade.

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