sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Bobo?

O Bobo da Corte

O bobo é um tipo popular. Existe o bobo por conveniência; o bobo por esquecimento; o bobo que gosta de fazer os outros de bobos, e assim por diante. Ultimamente apareceu até um samba que diz – “tem bobo pra tudo”. Mas o bobo de que vou falar agora é o bobo clássico da corte.
Houve um tempo em que os reis e nobres tinham para seu gáudio um bobo ou truão. O papel que exercia era o de contar pilhérias ou outras histórias cômicas, de divertir os seus amos. Muitos desses bobos, porém, eram dotados de um espírito aguçado e não raras vezes davam respostas que deixavam aturdidos seus interlocutores.
Conta-se, por exemplo, a história de um soberano da Saxônia que, querendo se divertir com o seu bobo, convidou-o a um dia tomar parte num banquete real. Chamou os seus copeiros e lhes ordenou que não pusessem nenhuma colher no local destinado ao bobo.
Ao ser servida a sopa, o rei, em voz alta, disse:
– Fiquem todos sabendo que é um grande asno aquele que não tomar a sopa. O bobo verificou que não lhe haviam colocado a colher. Não se perturbou. Tomando o canto de um pão cavou todo o miolo, espetando em seguida a um garfo. Com a colher assim improvisada tomou calmamente a sopa diante da estupefação geral.
Depois, levantando-se e em voz alta, dirigiu-se aos comensais e disse:
– Fiquem agora sabendo que é um grande imbecil e asno todo aquele que não comer a sua colher como eu estou fazendo; e, dizendo isso, foi comendo o pão que lhe servira de colher.

Reinaldo Rodrigues, em A Voz do Cambuci.

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