sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Encontrando-me com o Tempo


Encontrando-me com o Tempo
Natalie Dowsley


Hoje, reencontrei o Passado.
Toquei-o com dedos leves,
Temerosos,
Pois não sabia qual seria a reação do meu corpo.

Revê-lo, tão perto,
Não chegou a machucar-me.
O Passado foi especial
E me traz lembranças bonitas.

O doloroso do Passado
É saber que ele está vivo;
Que em sua veia
Segue sangue novo, incessantemente.

O tempo não pára
Para que o Passado se mantenha belo e intacto
Como alguns gostariam... como eu gostaria!
O tempo corre, voa, foge das nossas mãos.

Olhei meu Passado e,
Triste,
Percebi que ele havia construído um
Presente
Sólido, estável, feliz.

As lembranças do que fomos,
Eu e meu Passado, tão doce,
Eram apenas lembranças
De tempos que não voltam, e que ficaram para trás.

Passado tão bonito
Construído sob a manta dos sonhos encantados
Onde existem princesas e príncipes
Apaixonados e eternamente “enfeitiçados” uns pelos outros.

A vida, às vezes tão dura, tão fria,
Tão real, trouxe-me o Presente, que
Me obrigou a ver que contos de fadas
Não têm sempre, nem para sempre, um final feliz.

Apesar de toda dor,
Meu Presente ensinou-me
Algo que eu já devia saber
Mas que não ousara falar nem para mim mesma, até então.

Meu Passado existe,
Tem nome, idade e qualidades imensuráveis;
Mas é o meu Presente, meu doce e atual Presente,
Que me traz a felicidade das histórias de amor em que acreditei, outrora.

Quantas surpresas a vida nos oferece
A cada dia,
Em cada parada de ônibus,
Curvas e ruas!

Na hora que te toquei com os dedos do meu coração,
Ó, Passado, eu chorei.
Chorei as mágoas que ficaram
E as histórias que não se concretizaram.

Depois, mais tranqüila,
Fechei os olhos e pude ver,
Que meu Passado já passou
E que isto é maravilhoso.

Com o Passado passado a limpo
Pude entender e valorizar
O Presente especial que ganhei do Universo.
Um Presente que me acompanha, hoje, e que me faz feliz.

Peço-te desculpas, então, meu Passado,
Porquê chorei e te acusei de me esquecer,
De me deixar “para trás”,
De não lembrar-se de mim.

Compreendo, agora, que não posso controlar o Passado,
Porquê este não me pertence mais.
Tenho às mãos, agora, um Presente,
Que aceito de coração e alma abertos, feliz.

Nossos Presentes, querido Passado,
Parecem feitos “sob encomenda” para cada um de nós.
São, de fato, presentes que a vida ofereceu
E novas chances de construirmos um romance real, não ideal.

Porque o “ideal” é aquilo que está distante
Que quase inexiste, de tão perfeito que parece ser.
O ideal é o Passado que não se concretizou e que,
Talvez concretizado, tivesse tornado-se apenas um Presente idealizado e frustrado.

Obrigada, meu amado Passado,
Pelo abraço, pelo carinho, pelo cuidado.
Obrigada, também, por ensinar-me, mais uma vez,
O valor deste meu Presente, tão especial.

Te admiro, meu Passado,
E te amo com todas as forças do meu ser.
Mas és passado...
E, assim sendo, me despeço de você, para viver e escrever, agora,
O meu Presente,
Que será lindo, será belo,
E intensamente real!

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