domingo, 30 de novembro de 2008

A Pandora

Pandora,

escrevo esta carta apenas para te agradecer.
Agradecer porque abriste aquela caixa proibida;
porque abriste mão da responsabilidade
em prol da felicidade;
porque deixaste cair aquela máscara
que te impuseram,
que te sufocava
e sufocava a todos nós...

Escrevo-te para dizer
que os males da humanidade sempre estiveram presentes...
Na caixa, na alma,
escondidos ou expostos,
não importa!
Revelaste o que já havia,
e não fizeste mal em fazê-lo.

Somos humanos,
temos falhas,
e as colocamos em prática.
Tua caixa expôs apenas a ferida narcísica
que nos incomodava.

Tua caixa, aberta,
nos fez mais humanos,
menos irreais
como os deuses.

Tua caixa, querida Pandora,
mostrou que somos imperfeitos,
inexatos,
incongruentes
e outrora impiedosos.

Somos egoístas, somos covardes,
temos medos, temos frio,
temos fome.

Tua caixa, ó Pandora,
mostrou que, apesar de tudo isto,
somos belos,
estamos vivos!
E, por sermos vivos,
somos mutantes,
somos atuantes,
não fantoches, sob a mão do destino.

Somos humanos, com toda a nossa humanidade,
e nos resta o precioso dom da esperança:
esperança de que possamos nos aprimorar;
esperança de que possamos nos olhar mais,
nos respeitar mais,
nos amar mais;
esperança de que o mundo possa seguir outro rumo,
e inverter esta parábola,
subindo ao invés de descer...
esperança de que o mundo seja melhor.

E a esperança, Pandora,
tu salvaste e a guardaste
no fundo da tua caixa
e no fundo, no fundo,
de toda a nossa alma.

Natalie S. Dowsley
(A Simone, por seu T.C.E. lindo e inspirador!)

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