domingo, 28 de setembro de 2008

Desabafos

Desabafos

Quando iniciei meu curso de Psicologia, em 2002, carregava comigo uma mala cheia de coisas pesadas e antigas... Coisas desnecessárias, que só me davam trabalho e dificultavam minha caminhada, meu crescimento. Certamente esta mala, tão densa, tão dura, era o que me fincava no chão, fazendo brotar em mim uma terceira perna, aquela de quem Clarice Lispector falava (A Paixão segundo G.H.).

Durante a minha formação profissional, descobri que precisava reformular-me enquanto pessoa. Descobri que precisava tirar a mala das costas, abri-la, tirar todas as coisas, uma por uma, e fitá-las, tocando, cada uma, individualmente, e provavando o sabor que ela me proporcionava. Precisava cheirar cada uma das delas, descobrir quando as coloquei em minha bagagem, quanto elas já significaram para mim, e, principalmente, quanto elas ainda significavam...

Precisei repensar muitas coisas. Tocar em machucados antigos, mal cicatrizados; precisei sentir dor, chorar, limpar minha alma!

Cada lembrança foi experimentada, avaliada... e senti que era hora de fazer uma limpeza geral, uma faxina!, dentro dessa mala que carregava.

Joguei fora muitas coisas, coisas pesadas demais, e que não me acrescentavam mais nada! Não tinham mais utilidade para mim.

Fiquei mais leve.

Com o tempo descobri que não adiantava apenas fazer faxinas dentro de mim... Era preciso descobrir uma forma de evitar que tanta sujeira se acumulasse nesta minha mala, que, pouco tempo depois da limpeza, já voltava a ficar cheia, pesada.

Poderia fechar as janelas e portas de mim mesma, para evitar que a poeira invadisse minha casa com tanta força, com tanta quantidade...

Poderia simplesmente voltar a deixar a mala se encher, e carregar, para sempre, aquele peso que me estabilizava no chão, mas me impedia de voar...

Decidi agir diferente. Aprendi, ainda na faculdade - mas não apenas através da Psicologia, mas também a partir do convívio com pessoas muito especiais, inteligentes e sensíveis, que me ensinaram muito - que uma das formas mais eficientes de evitar que o peso das coisas difíceis da vida voltasse a nos incomodar os ombros era aprender a senti-las, pensá-las, e, ao invés de guardá-las, acumulando-as em nós, expressá-las, expondo aos outros aquilo que se pensa e sente em relação aos fatos pesados da vida.

Entendi, também, que não adianta fazer isto de qualquer forma, agindo com impetuosidade e de forma insensata, imprudente. É preciso ponderar, e descobrir formas, locais e momentos adequados para dizer o que se sente, o que se pensa, o que se deseja...

Guardo, na minha bagagem, até hoje e para sempre, esta grandiosa aprendizagem. Ela é imensamente importante! ... e incrivelmente leve!

Hoje, tento respeitar quando as pessoas buscam expressar o que sentem ao meu respeito - é uma tarefa difícil! Preciso estar sempre me observando, para não enganar a mim mesma e acabar não aceitando as críticas, os pontos de vista alheios...

Tento, principalmente, não guardar coisas ruins; sempre que posso, sempre que surge uma oportunidade adequada, busco falar o que sinto, ou senti, em determinadas situações ou momentos específiicos, tentando dar uma oportunidade - aos outros, a mim mesma e à vida - para que as coisas se esclaresçam, e que eu não tenha que carregar nenhum peso desnecessário junto comigo, por toda a vida.

Natalie S. Dowsley.

Um comentário:

O Profeta disse...

Olhos brilhantes maré tardia
Cabelos rebeldes em desalinho
Pés descalços no, frio barro
Um berlinde atirado ao caminho

Um bando de alegres pardais
Ou um domador de tempestades
Apenas um pássaro charlatão
Dividindo o pão em metades

Vem navegar no mar breve dos olhos de uma criança


Boa semana


Mágico beijo