sábado, 25 de dezembro de 2010

"Do seu toque nasce um mundo melhor"


A nova propaganda do perfume infantil da Johnson e Johnson é uma coisa linda!
A cena incial é de um bebê sendo cuidado pela mãe, que lhe perfuma com carinho. Já um pouco maior, o menininho, antes de ir ao seu primeiro dia de aula, pede pra mãe passar-lhe "aquele cheirinho" que o faz lembrar dela. A propaganda termina com a frase que intitula esta postagem.


Simples, mas eficiente: o comercial mostra a importância dos sentidos na construção de nossas memórias emocionais.
Desde a gestação até o último dia de vida, estamos em relação com o mundo. Fruto dessa interação nascem nossas memórias, na maior parte das vezes adquiridas de maneira involuntária e não-intencional.
O som das vozes, os cheiros dos ambientes, as imagens, paisagens e pessoas que vislumbramos, os toques recebidos: tudo, por menor que seja, deixa marcas em nossas memórias, que não se registram apenas no cérebro, mas em todo o nosso corpo, em nossas células mais diversas.
O registro das vivências não é o ponto alto da questão: a parte mais complexa desta "ferramenta" humana é que nossas memórias sofrem influência direta de nossas percepções/interpretações sobre o que vivemos. Ou seja, não é a lembrança de algo que nos faz rir ou chorar, e sim a compreensão que faço daquele fato recordado. Parece óbvio, não é? Mas essa é a grande complexidade humana!
Se dois irmãos gêmeos, que vivem nos mesmos ambientes e com as mesmas pessoas, sofrem agressões em casa, por quê um deles consegue ser feliz e seguir em frente, enquanto que o outro adoece e reproduz suas frustrações em sua relação com o mundo?
A diferença está não apenas na memória dos fatos, mas na forma que olho para aquilo que vivi/vivo.
"Mesmo que uma memória emocional não forneça um retrato completamente factual da experiência passada, o conteúdo emocional configurado como memória é uma representação absolutamente genuína dos referenciais internos do indivíduo." (Peres [et al], 2005). Estes "referenciais internos" são fruto da interação de nossas experiências, memórias e características próprias e pessoais. Ao longo da vida estes referenciais vão se constituindo e dando sentido às nossas vivências, concomitantemente, numa cadeia sem fim.


O toque, elemento destacado pela propaganda de perfume, é algo extremamente intenso e marcante. É a expressão física do estreitamento das relações, a forma mais clara de diminuição das barreiras entre o "eu" e o "outro", a grande expressão de nosso afeto e consideração - ou falta de - por quem nos cerca.
Para a criança, todas as ações voltadas a ela são de imensa importância e grandeza, já que esta é uma etapa onde se formam os pilares de nosso modo de "ser-no-mundo" (Heidegger).
Por isso, tocar - abraçar, beijar, acarinhar, ninar, aconchegar... - é tão importante: porque transpõem os limites do que sou e do que o outro é, unindo pessoas em uma única realidade, constituída a partir daquela interação estabelecida. Justamente por ser algo tão "invasivo" - ao ser tocado, "permito" que o outro entre em mim, em meu mundo e no que sou - é que o toque é tão importante... E pode ser, também, tão perigoso...
Crianças precisam do toque (todos nós precisamos, pois somos seres de relação!). Todos os cuidadores das crianças - pais, educadores, profissionais de saúde, etc - precisam estabelecer o toque na relação com os pequenos, mostrando-os que o contato com o outro é bom, é saudável, é positivo, agradável, fortalecendo na criança a segurança e fé nas suas interações presentes e futuras com outras pessoas.
O grande perigo está quando o toque é utilizado para machucar - física ou emocionalmente; quando é usado para o prazer do adulto que o "oferece" à criança não visando o bem-estar desta. Quando o corpo da criança passa a ser visto como mero objeto à disposição de outrem, o perigo se instala.
Esse "mau uso" do toque pode ser cometido de várias formas e por várias pessoas: no Bullying - violência nas escolas - colegas podem agredir outros, menores ou mais "frágeis"; na violência doméstica e no abuso sexual, o corpo do agredido passa a funcionar como propriedade do agressor, que o usa da maneira que achar mais conveniente; na mídia, as agressões através do toque são mais subjetivas, girando em torno da questão corporal: as exigências estéticas do mundo contemporâneo fazem com que o corpo seja encarado e buscado como uma fonte de prazer para o outro, e não para si mesmo. Isto gera insegurança e insatisfação permanente com o corpo que se tem, podendo levar ao distanciamento do toque com outras pessoas - "meu corpo não é bom o suficiente para te dar prazer".
De várias formas, a criança pode ver minada sua relação saudável com o toque. E não há dúvidas de que o corpo é nossa principal fonte de interação com o mundo, sendo, portanto, essencial ao nosso desenvolvimento pleno e salutar.
Considerando tudo isto, acredito que a maneira mais segura de garantir um crescimento completo e com poucos traumas - digo "poucos" porque os ditos "traumas", especialmente aqueles derivados de frustrações comuns do dia-a-dia, são inevitáveis e, até, essenciais à formação de um ser consciente e equilibrado - é cuidando para que as relações estabelecidas com nossas crianças sejam baseadas em respeito à pessoa que ela é. Dar carinho, tocar com amor, abraçar, beijar... Tudo isso é essencial! Mas cabe aos cuidadores uma tarefa difícil, bastante evitada por todos por se tratar de um assunto-tabu; cabe a estas pessoas falar à criança de que seu corpo é seu e que não deve ser utilizado de maneira errada, não deve ser agredido nem molestado, não deve ser menosprezado nem humilhado.
Orientações básicas, feitas desde cedo e na linguagem adequada para cada criança, são o mais forte escudo que podemos dispor às nossas crianças para que se protejam de abusos e violências, e que se relacionem com o seu próprio corpo e com o mundo de maneira tranquila e agradável, sem medo de ser usado ou de não ser bom o suficiente.


Como ainda não tenho filhos, vou fazendo minha parte por aqui...
E você, o que acha que pode fazer a respeito disso tudo?


Natalie S. Dowsley

domingo, 19 de dezembro de 2010

Paixão


Habitamos um mundo complexo.
Prova maior disto é que nada ao nosso redor foi, mesmo após tantos anos de nossa existência "inteligente e racional", plenamente revelado, esclarecido, desmistificado.

Teorias, existem diversas; mas, certezas inquestionáveis e inabaláveis, nenhuma.
O universo - com suas estrelas, planetas, buracos-negros, cometas... -, os mares, o ar, os animais... e nós: tudo e cada um, um micro-universo complexo e relativo, variável e impressionante.

Somos um mundo complexo.
Feitos de muitas partículas - células, gases, líquidos, ódios e amores... -, em geral nem nós mesmos nos compreendemos.
Entramos em "crises existenciais", formamos grupos com pessoas de mesmos interesses, pagamos terapia, aprendemos a tocar um instrumento, vamos ao psiquiatra, choramos rios e vales, nos isolamos... Em suma, lutamos!

Ora, a luta é pela des-coberta: tirar as máscaras, conhecer-se verdadeiramente, saber suas próprias vontades; em outros momentos, a corrida é pelo esconder-se: ir vivendo sem pensar em nada mais profundo do que qual a cor da blusa que se vestirá hoje ou se vai comer hamburguer ou apenas uma maçã...

Somos mesmo bem complicados.

A paixão entra, nisto tudo, como um daqueles elementos misteriosos que nos fazem parte. Elemento tão complexo quanto nós mesmos: ao mesmo tempo que é denso, conferindo força e intensidade às nossas ações, é leve como uma pétala ao vento, levando-nos com tranquilidade pelo ar quando deixamo-nos guiar por esta força.

Assim como o universo sinaliza quando uma chuva se aproxima, nosso corpo dá sinais sobre as mudanças que ocorrem em nós. Tal como no caso da chuva, poucas pessoas conseguem decifrar ou dar valor a estes sinais... Em geral, ignoramos. E muitas vezes seguimos com a vida, desconsiderando o que ocorre em nosso corpo, em nosso micro-universo.

A paixão, elemento que nos move quando em sintonia com nosso corpo e desejos, fica aprisionada, presa, amordaçada.

Muita gente vive assim por anos. Alguns, por toda a vida.
Outros, adoecem: não suportam viver em contradição consigo mesmos por muito tempo.
Quem saberá o que é "o melhor", o mais saudável entre estes dois extremos?!...

Hoje, estou tentando deixar fluir minhas vontades, encontrar meu verdadeiro rumo, meus anseios... Estou tentando me libertar das prisões e armadilhas que criei para mim.
Lutando por permitir-me ser o que sou, deixando a paixão agir e me guiar.
Não sei até onde vou em sua companhia. Mas comecei minha jornada.
Certamente chegarei em algum canto... E se esse canto for ao menos uma pequena parte descoberta de meu próprio universo, já será um "pequeno passo para um homem, mas um grande salto para a humanidade"... para a minha humanidade.

Natalie Dowsley

domingo, 21 de novembro de 2010

O silêncio que fala


Somente uma criança vítima de violência sexual pode saber a dor que lhe compõe...

Na tentativa de pôr palavras em seus silêncios, escrevi algumas linhas, para que não esqueçamos nunca do ABSURDO QUE É A VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS.

Nós, adultos, precisamos nos disponibilizar para ouvir nossas crianças, deixando sempre os espaços necessários para que elas perguntem, questionem, conversem sobre todas as dúvidas e assuntos que desejem... e, em último caso, que possam revelar as dores e tristezas do que não possa ter sido evitado...


O Silêncio que Fala

Gritos ecoados no peito: Silêncio
Não me peças para falar,
Não me condenes por calar.
Compreenda a dor da criança que fui.

Perdido em meio ao sofrimento
Fecho os olhos para não ver mais
Aquele rosto, aquele sentimento.

Tapo a boca para não dizer o que envergonha
Me fecho em concha para não magoar.
O que passou dói em mim
Mas doeria mas em quem deveria ter cuidado da criança que me habitava.

Eu quis poupar-lhes disso.
Erro meu.
Grave erro!

Tremo ao pensar que outras crianças podem ter
Se perdido em meio àquela loucura, àquela doença.
Tremo ao saber que poderia ter evitado algo mais
Que tenha vindo a acontecer.

Mas eu era somente uma criança...
Não era o adulto que sou, agora:
Forte, decidido, maduro, confiante.

Perdôo-me por calar
E peço que me perdoes também.
Acolhe a minha dor, agora,
E luta comigo para que isso não volte a acontecer.

Ajuda-me a proteger outras crianças.
Mantenha-se atento àquelas que estão ao seu redor
E, na dúvida, denuncie.
As crianças agradecem...inclusive a que um dia me habitara.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O primeiro passo


Confesso que nunca li nenhum livro de Paulo Coelho e, portanto, não posso opinar a respeito da sua habilidade com a literatura. Mas, gosto muito das compilações de textos de reflexão que ele já organizou, como a obra "Maktub".

Este texto que compartilho faz parte desse conjunto de escritos; é um texto simples, mas de uma profunda sabedoria. A mais pura verdade... assim espero!!!

Um psiquiatra amigo conta que – ao contrário da crença popular, que atribui à escuridão a capacidade de deprimir as pessoas – a maior parte dos suicídios ocorre de manhã. É justamente no momento de acordar que o depressivo se vê diante de sua maior dificuldade: enfrentar um novo dia.

Isso nos leva a considerar o velho ditado árabe: o pior de todos os passos é o primeiro. Quando estamos prontos para uma decisão importante, todas as forças se concentram para evitar que sigamos adiante. Já estamos acostumados com isso. É uma velha lei da física: quebrar a inércia é difícil. Como não podemos mudar a física, concentremos a energia extra e conseguiremos dar o primeiro passo.

Depois, o próprio caminho ajuda.

(Paulo Coelho)

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Furacão














Intenso
Arrancou os coqueiros que beiravam o mar
De paz e calmaria que me naufragava.

Movimentou as águas,
Fez surgir as ondas que dão prazer
Aos aventureiros...
e aos que há muito não sabiam o gosto do desafio.

As areias da praia mudaram de posição
Tudo saiu do lugar.
Imutável, apenas a inocência que compõe minha paisagem.

O caos completo traz a sensação de confusão,
de desordem... Leva à perda de referências.
Onde deixei ancorado meu barco,
nessa praia ilhada de mim mesma?

Sem rumo, o vento, violento,
me arrastou para onde eu quis ir
por desconhecimento... por querer o desconhecido.

Não conhecer a rota faz da viagem
um mistério excitante
mas também põe fim
à tranquila sensação de "terra firme" e "pés no chão".

Voei alto, voei longe
embarcando nesse furacão!
Foi tudo muito veloz... foi tudo muito intenso!

Escolhi viver tudo e,
olhando pra minha terra, agora,
vejo que sobraram apenas os destroços...
pedacinhos de casas, de barcos, de corações.

Recomeço, agora, curando as feridas expostas,
sangrando.
Ergo a cabeça tendo que ver o que não queria.

Porém, para consertar esse meu mundo
depois de sua passagem, furacão,
preciso olhar e recolher cada pedacinho de minha história, despedaçada,
e dar destino: pôr fora ou colar os pedaços do que fui... quem sabe?

Os coqueiros da minha paisagem conhecida
podem renascer, mas jamais serão os mesmos
pois não sou mais a mesma que os vê...

Ainda que a areia retome sua posição, mudamos:
eu, a areia, o mar, os desejos e necessidades.
Não seremos nunca mais a mesma pintura,
arte de um artista comum e conhecido...

Seremos, agora, mistério a ser construído:
casas novas, novas árvores, novas pessoas
compondo um novo quadro de pintura desconhecida e feliz.

Porque, agora, depois de tantas mudanças,
o mínimo que minha cidade, tão devastada, merece
é ser cronicamente feliz.
E assim a farei! E assim a serei!

Natalie S. Dowsley

domingo, 19 de setembro de 2010

"A gente muda, o mundo muda"














Não, isso não é mais uma propaganda de refrigerante!
A intenção da imagem é a frase, não o produto vinculado.

Diversos estudos comprovam isso; a Psicologia já cansou de falar sobre; diversos artistas, em filmes e quadros e músicas, repetem este pensamento: quando mudamos, mudamos também nossa forma de ver e nos relacionar com o mundo, com os outros que nos circundam, com os outros que nos habitam...

Quando mudamos, passamos a ver tudo através de novas lentes. O foco muda. O que antes era figura, vira fundo; o que era fundo, pode virar figura... E isso muda tudo!!!

Sabe bem disso quem antes vivia "preso" a sentimentos/sensações que só traziam maus pensamentos, que tornavam a visão obscurecida, acinzentada; e, um dia, por um motivo grandioso ou por pequenos motivos que se somaram com o tempo, a mudança acontece: os grilhões que amarravam aos pesados sentimentos são quebrados: LEVEZA! E, a partir deste momento, tudo muda!: mudam as sensações, muda a forma de perceber os acontecimentos do mundo, muda a maneira de nos enxergarmos diante desse mundo!
Claro que essa mudança pode acontecer trilhando um caminho inverso: pessoa feliz, enxergando um mundo cheio de cores e que, por algum(ns) motivo(s), passa a sentir a vida sob um prisma sem cor e sem luz, sombrio...

Mudanças.

Mas, o fato é que, se mudamos, nossas lentes também modificam. As cores mudam, o tamanho das coisas também: o que antes era um elefante pisando em nosso pé pode passar a ser uma formiguinha chata que incomoda mas é fácil de "espantar"... O que antes me satisfazia, hoje já não completa mais... O que era indiferente, pode passar a ter um peso enorme e provocar incômodos e reações.

Eu mudei. Meu mundo mudou.
Sigo, agora, aprendendo a lidar com as consequências de tantas metamorfoses e descobrindo o que aindo quero/posso/devo/consigo salvar de tudo o que um dia compôs a mim mesma.

Natalie S. Dowsley

domingo, 27 de junho de 2010

Somos Seres Incompletos

Se há algo em nós que é comum, que vive em todos e não se questiona é a nossa essência incompleta.

Não há um ser humano que sinta-se pleno em suas necessidades, que compreenda-se integralmente satisfeito e saciado, que não guarde em si um - ou vários! - desejo de algo mais.

Essa incompletude, no entato, não significa que todos vivem em busca da conquista desses desejos ainda não alcançados...

Há, antes de tudo, uma outra característica - neste caso, comum a tudo no mundo - que antecede à que me refiro neste texto: somos seres únicos e complexamente diferentes uns dos outros.

Por sermos, então, tão diferentes entre nós, são diferentes, também, nossas reações diante de nossas frustrações, frente às nossas "ausências".

Uns, diante do desejo do que não possuem, sonham, planejam, lutam, se engajam e cometem loucuras em busca do desejado, com a ânsia dos grandes deuses-guerreiros do Monte Olimpo.

Outros, desprovidos de grandes ambições, acomodam esses desejos dentro de si mesmos, em um espaço destinado àquilo que se olha com uma saudade imensa de algo bom que nunca se teve... e assim vivem, tranquilos com aquilo que já possuem e com os desejos engaiolados no coração.

Não existe, obviamente, a melhor maneira ou a mais "correta" - certo ou errado é algo infinitamente relativo!!! - de vivermos nossas inquietudes, nossas incompletudes. Cada um é que sabe "onde o calo aperta" e se o momento é de "lutar e correr atrás", movido pela ambição e paixão, ou se é tempo de calmaria e mansidão, acomodando-se com o que já é possuído.

O fato é que somos seres incompletos. E precisamos ter plena consciência disso, pois este é um dos grandes sentimentos que nos movem em vida, que direcionam nossas escolhas, que dão rumo às nossas ações.

Desejo por um emprego que pague um salário melhor - mesmo quando já se tem uma boa remuneração e um bom trabalho -; desejo por um companheiro mais carinhoso, quando estamos com uma pessoa mais "fria" porém inteligente, de "bom papo"; desejo por uma companhia de conversa mais agradável, mais "amiga", quando reina na relação atitudes mais "apaixonadas", impetuosas...

Somos, enfim, seres de busca que, ocasionalmente (para alguns este "ocasional" é quase uma constante!), vivem em busca de completar seus espaços vazios. O perigo está na forma como buscamos supri-los.

É extremamente triste, pelo menos pra mim, ver pessoas tentando encher seus espaços ocos com paixões fugazes, traindo companheiros que estão se sentindo completos e preenchidos com o outro - ou, ao menos, estão suprindo suas incompletudes sem traições ou mentiras.

É triste ver pessoas furtando dinheiro ou bens de outros, simplesmente para poder viver uma vida com mais conforto, luxo, prazeres, poderes... (como alguns dos nossos políticos, especialistas em meias, cuecas, bolsas e programas governamentais que se dizem para "aceleração do crescimento", que desviam grandes quantias, com as desculpas mais esfarrapadas possíveis...).

Nesses momentos fico triste ao ver que o ser humano é tão igual mas, concomitantemente, tão divergente em suas atitudes, tão capaz de escolhas desleais e injustas.

Não condeno ninguém. Cada um sabe e é responsável por aquilo que escolhe. Como diria o sábio Sartre: "Só e sem desculpas, o homem está condenado a ser livre".

Na ação inevitável de exercer esta minha liberdade, permito-me, no entanto, fazer minhas escolhas, e elas, involuntarialmente, agem como julgamentos, que constrõem para mim noções de "certo" ou "errado", que conduzem meus passos. E aqui, compartilho minhas escolhas, na certeza de que tudo é relativo, de que traições podem ser, em alguns casos, a escolha mais acertada para aquele momento específico, que furtos podem ter uma justificativa altruísta e válida... e que o mundo não é redondo nem perfeito, e mesmo assim continua girando em sua rota com a perfeição possível e necessária.

Natalie S. Dowsley

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Sábias Palavras!

















Adoção por casais homossexuais
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Condição básica de uma boa educação: o pai não pode querer que o filho seja um clone seu

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CONTARDO CALLIGARIS
(Folha de S.Paulo - 13/05/2010)



"NA SEMANA retrasada, por unanimidade, o Superior Tribunal de Justiça reconheceu que casais homossexuais têm o direito de adotar.
Claro, duas mulheres ou dois homens já podiam criar juntos uma criança adotada por um dos membros do casal. Agora, eles poderão compartilhar legalmente a responsabilidade da adoção.
O ministro João Otávio de Noronha declarou que a decisão do tribunal foi guiada pelo princípio de atender ao interesse do menor. No debate a favor ou contra a adoção de crianças por casais homossexuais, todos afirmam, aliás, opinar e agir no interesse dos menores.
A primeira questão nesse debate, portanto, é a seguinte: crianças criadas e educadas por um casal homossexual (feminino ou masculino) sofrem de dificuldades específicas?
Seu desenvolvimento afetivo, intelectual e sexual é diferente do das crianças de casais heterossexuais?
Como disse, faz décadas que, mundo afora, casais homossexuais já criam filhos, naturais e adotivos. E faz décadas que psicólogos, médicos e assistentes sociais pesquisam esses casais e seus rebentos.
O resultado é inequívoco e aparece num documento de 2007, endereçado à Corte Suprema da Califórnia pela American Psychological Association, a American Psychiatric Association e a National Association of Social Workers, ou seja, pelas três grandes associações dos profissionais da saúde mental dos Estados Unidos (psicólogos, psiquiatras e assistentes sociais).
Esse texto, de 72 páginas, apresentando uma ampla bibliografia de pesquisas, afirma que "homens gay e lésbicas formam relações estáveis e com compromisso recíproco, que são essencialmente equivalentes a relações heterossexuais" (III, A), e que "não existe base científica para concluir que pais homossexuais sejam, em qualquer medida, menos preparados ou capazes do que pais heterossexuais ou que as crianças de pais homossexuais sejam, em qualquer medida, menos psicologicamente saudáveis ou menos bem adaptadas" (IV, B).
Ora, tramitam na Câmara dos Deputados dois projetos contra a decisão do Superior Tribunal de Justiça, um do deputado evangélico Zequinha Marinho (PSC-PA) e outro do deputado Olavo Calheiros (PMDB-AL). Visto que não dá mais para dizer que pais homossexuais sejam nocivos para suas crianças, os projetos se preocupam com o constrangimento das crianças diante dos colegas. Na escola, vão zombar de filho de homossexual. Para evitar esse vexame, melhor proibir a adoção por casais homossexuais.
Pois é, na mesma escola, também vão zombar de negros e de pobres.
Vamos impedir negro e pobre de ter filhos? O cômico é que, no Brasil, o filho de homossexual pode ser objeto de zombaria, mas essa zombaria não se compara com o que pode acontecer com filho de deputado.
Esperando que a reputação da classe política melhore e sentindo sinceramente pelos deputados honestos, no espírito dos projetos Marinho e Calheiros, acho bom proibir também a adoção de crianças por deputados federais e estaduais.
Brincadeira à parte, na nossa cultura, a condição básica de uma educação que não seja demasiado danosa é: os pais não devem querer que os filhos sejam seus clones.
Quando desejamos que nossos filhos sejam a cópia da gente, é para encarregá-los de compensar nossas frustrações: quero um filho igual a mim para que tenha o sucesso que eu não tive ou para que viva segundo regras que eu proclamo, mas nunca consegui observar. Pois bem, para criar e educar no interesse dos menores, é necessário fazer o luto dessas esperanças, que tornam as crianças escravas de nossos devaneios narcisistas.
Agora, a percentagem de homossexuais entre os filhos de casais homossexuais é igual à da média da população, se não menor. Ou seja, aparentemente, os homossexuais não têm a ambição de ver seus filhos se engajar na mesma "preferência" sexual que lhes coube na vida.
Em compensação, quem gosta mesmo de filho-clone são todos os fundamentalistas. É quase uma definição, aliás: fundamentalista é quem quer filhos tão fundamentalistas quanto ele.
Uma conclusão coerente seria: o interesse das crianças permite que elas sejam adotadas (e, portanto, criadas e educadas) por pais homossexuais e pede que a adoção seja proibida aos pais fundamentalistas evangélicos, por exemplo.
Serviço. Para ler o documento de 2007, acesse tinyurl.com/docpsi


ccalligari@uol.com.br "

Texto extremamente sábio e polidamente incisivo, como um bom texto precisa ser!
Palmas ao autor, Contardo Calligaris!

E que possamos, nós todos, refletirmos sobre as cobranças que impomos às nossas crianças, baseadas meramente em nosso narcísico desejo de nos ver, espelhos, através de nossos filhos; e que possamos, ainda, ensinar nossas crianças a, autônomamente, construírem suas próprias visões de mundo, livres de pré-conceitos e opiniões arbitrárias e discriminatórias.

Viva às diferenças!
Viva à liberdade!

quinta-feira, 13 de maio de 2010

As eleições estão chegando...

















As eleições estão batendo às nossas portas.
Os discurssos são sempre os mesmos... mas as mudanças ainda são minha esperança (desde a 1ª vitória do presidente -sindicalista que ganhara minha torcida desde cedo, quando disputou com Collor...).
Não sei ainda em quem votar, só tenho uma certeza:
não será, jamais, na candidata e seu presidente que, juntos, encobrem corruptos e manipulam pessoas em massa, a seu favor, e que, num discurso incoerente de defesa à honestidade, fazem uso dos eventos e propagandas governamentais para fazer campanha eleitoral antecipadíssima, dando provas "homéricas" de suas desonestidades.
Se não sabe jogar sem roubar, caramba, num joga!

Sobre o assunto, um texto do grande Cony:

O pão e o circo
Carlos Heitor Cony
(Folha de S.Paulo - 13/05/2010)

"RIO DE JANEIRO - Continuo desmotivado em matéria de eleições, inclusive a sucessão presidencial. Acho sacais as entrevistas, análises e pesquisas que entopem os chamados veículos de comunicação: TV, jornais e revistas. E agora a internet. Uns pelos outros, dão mais palpites do que informações.
Em linhas gerais, há centenas de candidatos a isso ou àquilo, que procuram alianças e apoios, sobretudo procuram financiamentos para quando chegar a hora de botar o bloco na rua. Chamam de "palanque" o resultado dos acordos e perspectivas. É a rotina que mais uma vez prevalecerá.
Esta rotina nada tem a ver com a ideologia, o partido, o passado, o presente e o futuro dos candidatos. A TV -pautando a imprensa escrita e falada- será o palco e o tribunal definitivo da luta eleitoral. Quem se sair bem do ponto de vista da massa ganhará as batatas.
Evidente que os produtores, marqueteiros, conselheiros disso e daquilo e até os iluminadores e maquiadores serão peças importantes neste autêntico "big brother" programado para outubro próximo.
Teremos a maratona que desfilará pela TV falando em bons costumes, em pleno emprego, em liberdade de expressão, em justiça, em honestidade -de certo modo, todos falarão a mesma coisa, mas o eleitor de hoje é, em essência, um telespectador que deseja participar do show.
A TV, por sua natureza, transforma tudo em espetáculo. Não importa o que seja dito ou prometido. Muito menos importará se o candidato é confiável ou não. Haverá tempo para a implantação da ficha limpa? Tudo dependerá da produção, daquilo que se chama "química" entre o ator e a plateia.
O próximo presidente do Brasil será escolhido por um contingente eleitoral que se habituou a pouco pão e muito circo."

sexta-feira, 7 de maio de 2010

A Beleza das Grandes Decisões

Diante de tantos acontecimentos (atuais mas reccorrentes, infelizmente...) - mães adotivas torturando crianças, pais abusando e engravidando filhas... -, falar e refletir sobre "o que é ser mãe" parece-me bem coerente.

Feliz Dia das Mães àqueles que sabem a grandeza desta escolha, e a fazem todos os dias, com orgulho e dedicação!

Parabéns!







sexta-feira, 16 de abril de 2010

CRIANÇA SEGURA: isso depende muito de VOCÊ!

A ONG "Criança Segura" faz parte de uma rede internacional, o SAFE KIDS Worldwide, que integra mais de 16 países espalhados pelos 5 continentes. Seu objetivo é promover a prevenção de acidentes com crianças e adolescentes até 14 anos.

Para isso, a ONG atua, entre outras ações, através de campanhas educativas voltadas à população, objetivando ORIENTAR para os cuidados essenciais à segurança das crianças em casa e em outros ambientes.

Vale muito à pena conhecer o site da instituição e assistir aos vídeos mencionados abaixo.


Nova campanha para TV

Está no ar a nova campanha da ONG Criança Segura, desenvolvida pela OpusMúltipla Comunicação Integrada para estimular a prevenção da principal causa de morte de crianças de 1 a 14 anos no Brasil: os acidentes.

Segundo dados do Ministério da Saúde, o Brasil contabiliza mais de 5 mil mortes todos os anos e cerca de 130 mil internações, devido a acidentes de trânsito, afogamentos, sufocações, queimaduras, quedas, intoxicações, armas de fogo e etc.
Segundos estudos americanos, 90% destes acidentes poderiam ser evitados com a adoção de medidas de prevenção.

A campanha é composta por um filme de lançamento que mostra como o descuido de apenas alguns segundos pode colocar uma criança em risco.
Para a sustentação da campanha, foi desenvolvido outro filme com 10 finais diferentes, que serão veiculados em rodízio pelas principais emissoras de TV aberta e fechada do país.
Cada filme mostra um dos perigos que se escondem (como a tomada exposta, a janela sem rede de proteção ou uma chaleira com líquido quente) num ambiente aparentemente seguro.

A campanha fica no ar até o final do ano. Os filmes podem ser vistos no
site da CRIANÇA SEGURA e no canal da organização no YouTube.