quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Resposta II

Transparente demais
Entregue demais.
A intensidade é o meu grande desafio.

Encontrar a medida para o que não se pode mensurar;
conter rios que ousam desafiar o mar;
calar diante do que se deseja gritar;
ter que falar quando há mais prazer em somente escutar.

Há a necessidade, cada vez mais pungente e clara,
de que a vida em mim seja contida.
Soltar os grilhões do que se é e do que se tem
é possibilitar-se viver com intensidade...
Intensidade tal que fere, despedaça, mata.

Morre-se não apenas o que se desejou.
Morre-se parte da espontaneidade, parte da fé no que é autêntico, puro, natural.
Morre-se a liberdade, pedra preciosa do que é humano.
Porque impôr limites aos sentimentos e à entrega é poldar o que há de belo...
mas é também preservar-se íntegro... ou não...

Valerá à pena ou será possível preservar-se íntegro não sendo inteiro no que se vive?
Haverá sentido em dar-se em parte e sofrer a dúvida do que poderia ter sido se a doação fosse total?

Sei apenas que meu coração calou-se frente ao ouvido
Não por discordar do que fora dito
Mas somente por querer ser alvo de afeto,
de um afeto antes conhecido.

O corpo busca o equilíbrio, a homeostase,
ainda que em fontes inadequadas ou incapazes.
Caberá a quem fica - face a face com o oco que habita -
conter-se no desejo de se preencher.

Há mais beleza na solidão do que posso enxergar, hoje, em minha pouca sabedoria.

Natalie S. Dowsley

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Compartilhando riquezas...


"Epígrafe do dia

Por que será mesmo que durante toda a nossa a vida gostamos tanto de ouvir histórias seja sob a forma de narrativas despojadas, de filmes, livros , qualquer feição que tome?

Eu cá penso que seja porque as histórias nos re-ligam aos arquétipos.

Os arquétipos são fundamentalmente simbólicos. Podem ajudar-nos a evoluir, colectiva e individualmente. Se os respeitarmos, poderemos crescer.Os herois empreendem jornadas, enfrentam dragões e descobrem o tesouro do seu verdadeiro Si Mesmo [o nó mais íntimo da Consciência]. Embora possam sentir-se muito sós durante a busca, no final, experimentam um sentimento de comunhão: consigo mesmos, com as outras pessoas e com a Terra. A cada vez que enfrentamos a morte em vida, nos deparamos com um dragão. Se escolhermos a vida em vez da não-vida, mergulhamos mais profundamente na descoberta de quem somos e derrotamos o dragão. Infundimos, assim, vida nova em nós mesmos e na nossa cultura. Mudamos o mundo.

A todos um dia de transcendentes aventuras.

"A razão porque os fantasmas abandonaram os velhos castelos da Escócia é porque as pessoas deixaram de acreditar neles ." (Gilbert Keith Chesterton )"

Ana Lúcia de Mattos Santa Isabel

domingo, 2 de outubro de 2011

A Guerra

Tácitos sentimentos povoam o reino.
Súditos, confusos, correm atordoados,
Desejando buscar refúgio em aconchegos familiares...
Não podem mais.

O desconhecido assusta.

O exército havia se preparado,
Estudado o adversário a ser enfrentado
E acreditava estar apto a uma luta
Dolorosa, mas necessária.
A missão fora compreendida e racionalmente aceita...

Quão sofrido vem sendo ao rei
Dar-se conta da destruição de sua paz:
Corpos dilacerados, almas despetaladas,
Sonhos perdidos para o fogo da morte
Destruindo, por ora, a fertilidade das terras
Que outrora floresciam no coração.

Paixão. O motivo de toda guerra.
E, entre destroços de lares e
Pedacinhos de sonhos espalhados por todo o mar,
Rei e súditos, amordaçados, contêm o grito de dor e se vão,
Mergulhando no recôndito obscuro do que não se sabe ser.

Esperam, pois sabem que a noite passa;
Tentam enxergar as estrelas
Como recompensa da escuridão.

Uma estrela cadente escorre na face de um deles
E todos os demais fazem o mesmo pedido:
Amor, felicidade e paz.

O reino voltará a sonhar.

Natalie S. Dowsley

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Resposta


Em seus olhos brilham
Toda a multiplicidade que compõe o Universo:
Entre raios de sol, candura e luminosidade,
Coabitam os mistérios das sombras,
Cercados por relvas e silêncios inexplorados.

Toda beleza só pode ser sentida
Por quem se permite viver
A magnitude de tudo o que pode ser:
Antíteses e sabores,
Aromas resplandescentes e toques de solidão:
Ingredientes da humanidade que nos fazem imperfeitos
e por isso sábios.

Tudo em seu olhar revela o mistério do que é
Inteiro, tão repartido em pedacinhos de cristais não-curados;
Nada em tuas palavras, tão contidas e silenciosas,
Pode cobrir de indiferença este desejo
Incandescente de amar e viver.

Tal é a beleza destas tantas sensações
Que te envolvem e compõem como
Um simples feixe de luz - branco, é o que se vê; múltiplo em cores, é o que se tem -
Que silencio em respeito a esta semente
Que deseja germinar.

Admirar-te hei, à distância, vendo
Antíteses transformarem-se em alegrias,
Enchendo de beleza todos os sonhos por ora
Adormecidos em potenciais paixões e vida.
Quando, enfim, permitir-te brotar,
Serás livre como pétalas ao vento,
Ainda que unido ao solo para se firmar.

Natalie S. Dowsley

domingo, 3 de julho de 2011

Ímpar

Alguém roubou meus pensamentos/sentimentos e escreveu este texto:


"Esbarramos num fim de ano qualquer. Nascemos dia 17. Passamos pelo término do verão e sobrevivemos ao inverno. 

Os dias escorreram pelo ralo, os minutos escaparam pelo ar e a rotina foi nos engolindo.

 Tentei agarrar a fase das flores pelo pescoço e pedir pra ela ficar mais um pouco.

Você contemporizava e cantava mantras vazios. 'Calma, isso é só o tempo passando. Nada além disso, por favor vamos manter a calma.'

Tive vontade de me livrar dos calendários, quebrar relógios, rasgar folhinhas. Manter a gente junto, juntinho... Mas a gente continuava escapando diariamente.

Piscávamos e não éramos os mesmo, sorriamos e mudávamos de pensamento, chorávamos e já não tínhamos a mesma opinião.

A verdade é que a gente se abandonava a todo momento e só um distanciamento interpretativo foi capaz de permitir conclusões tão óbvias: sobrou só uma saudade imensa daquele fim de ano, do dia 17, do verão que não volta, do inverno anterior.

Acabou sem que notássemos a data. E os números pares nunca mais fizeram sentido pra mim.

(Texto dedicado a todas as mudanças da vida, inclusive as mais imperceptíveis e importantes: aquelas que se passam dentro da gente.)"

Flah Queiroz

Fonte: http://confrariadostrouxas.blogspot.com/

domingo, 26 de junho de 2011

Sempre é tempo de se reinventar...


Composição

Quando perdi quase tudo,
descobri que a dor
não era maior que o sonho.
Quando esqueci o caminho,
vi que o horizonte
ficava do lado errado.
Quando só o meu rosto
sobrava em cada espelho
(e nada do lado de cá),
juntei desalento e desejo
e me reinventei
com carinho.

(Agora pareço comigo
antes de o amor ser
cancelado).

Lya Luft
(Record, 2005:p.75)