domingo, 4 de novembro de 2012

Você não É nada!

Não há consenso sobre o que é ser humano.
A cada ano mudamos, a cada década, a cada século...
Novos estudos, novas teorias, novos sábios criando teorias que buscam definições e a criação de padrões que nos estabilizem e enquadrem em uma carcaça de comportamentos e desejos.

Mas não somos nada disso: estabilidade, certezas, segurança.
Ao contrário de outros animais, somos especialmente MUDANÇA.
Ainda nômades, buscamos uma residência fixa, um emprego estável, um salário confortável... mas a mesmice nos incomoda e sufoca!

Como poetisa Drummond, o homem é ser de novas e constantes viagens,
repetindo permanentemente "a fossa e o inquieto repetitório" (O homem; As viagens - "A impurezas do Branco", 1973 - Drummond de Andrade, Carlos), buscando mudanças, descobertas e inovações.

Os gregos inventavam histórias de aventura e mitologias incríveis (o medo da caverna escura do Minotauro ou da caixa de Pandora, ambos desafiados pela curiosa busca por aventura e novidade, próprias do humano/semideuses), os romanos, sua política de "pão e circo" (que iludiam o povo com o que mais lhes atraia: a novidade e a agressividade) e o homem moderno/contemporâneo cria peças de teatro (Romeu e Julieta de Shakespeare, por exemplo, onde um casal luta por uma paixão temperada pelo desafio a uma época e cultura fundamentalmente cerceadora), filmes e livros onde, no fim das contas, o principal foco é revelar a busca humana pelo novo, pelo curioso, por tudo o que acelere o coração e traga ao organismo aquela sensação que nossos ancestrais viviam ao ter que caçar sua própria comida e lutar contra tribos rivais e "ameaçadoras" - o que é dito "ameaçador" é mais um conceito polêmico e que mostra nossas contradições: buscamos o diferente e o inovador, desde que esta divergência não ameace nossa integridade ou nossa ilusão de superioridade).

Somos seres de mudança, ainda que permaneçamos estagnados.
Quando adoecidos, não conseguimos sair da inércia: trabalho, família, amigos, amores, sonhos... tudo para, pois não resta energia para este investimento emocional, racional, físico.
Quando em estado dito "normal", podemos escolher não investir energia nas mudanças  (não entrar numa escola de dança e aprender a arrasar no salão; não iniciar o estudo de um novo idioma para fazer a viagem dos sonhos; etc) mas continuamos as desejando, sonhando e pedindo aos céus para que aconteçam... queremos mudanças!

Na Geração Y, os jovens vivem isso com ainda mais intensidade: mudança é essencial!
Novas músicas, livros, filmes, empregos, relacionamentos... estável, só a mudança.

E nessa loucura que somos, a arte é encontrar o equilíbrio, acalmar o coração, tranquilizar o espírito e entender que não é preciso "ter" tudo para ser feliz... a ausência é salutar, é combustível, é motivador!
Sempre haverá um filme melhor para ver, uma comida nova para provar, um emprego melhor para viver, um relacionamento diferente a experimentar...
Mas, será mesmo que precisamos viver tudo - será possível esgotar todo o novo que nos aguarda?! - para nos sentirmos realmente FELIZES?!

 O anseio por mudança deve permanecer - e certamente sempre estará em nós - mas a mudança não precisa ser drástica e cruel. Sempre mudamos, COMO UM RIO, mas há uma essência que dá base e garante a estabilidade desse rio, possibilitando que, passe o tempo que for, sempre que olharmos aquelas águas - que mudam a cada segundo - saberemos e definiremos aquela experiência como "um rio".

Descobrir minha essência - como já dizia o citado Drummond - e mudar sem perder-me de mim mesma. Essa é a meta. 

 Natalie Dowsley



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