segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Furacão














Intenso
Arrancou os coqueiros que beiravam o mar
De paz e calmaria que me naufragava.

Movimentou as águas,
Fez surgir as ondas que dão prazer
Aos aventureiros...
e aos que há muito não sabiam o gosto do desafio.

As areias da praia mudaram de posição
Tudo saiu do lugar.
Imutável, apenas a inocência que compõe minha paisagem.

O caos completo traz a sensação de confusão,
de desordem... Leva à perda de referências.
Onde deixei ancorado meu barco,
nessa praia ilhada de mim mesma?

Sem rumo, o vento, violento,
me arrastou para onde eu quis ir
por desconhecimento... por querer o desconhecido.

Não conhecer a rota faz da viagem
um mistério excitante
mas também põe fim
à tranquila sensação de "terra firme" e "pés no chão".

Voei alto, voei longe
embarcando nesse furacão!
Foi tudo muito veloz... foi tudo muito intenso!

Escolhi viver tudo e,
olhando pra minha terra, agora,
vejo que sobraram apenas os destroços...
pedacinhos de casas, de barcos, de corações.

Recomeço, agora, curando as feridas expostas,
sangrando.
Ergo a cabeça tendo que ver o que não queria.

Porém, para consertar esse meu mundo
depois de sua passagem, furacão,
preciso olhar e recolher cada pedacinho de minha história, despedaçada,
e dar destino: pôr fora ou colar os pedaços do que fui... quem sabe?

Os coqueiros da minha paisagem conhecida
podem renascer, mas jamais serão os mesmos
pois não sou mais a mesma que os vê...

Ainda que a areia retome sua posição, mudamos:
eu, a areia, o mar, os desejos e necessidades.
Não seremos nunca mais a mesma pintura,
arte de um artista comum e conhecido...

Seremos, agora, mistério a ser construído:
casas novas, novas árvores, novas pessoas
compondo um novo quadro de pintura desconhecida e feliz.

Porque, agora, depois de tantas mudanças,
o mínimo que minha cidade, tão devastada, merece
é ser cronicamente feliz.
E assim a farei! E assim a serei!

Natalie S. Dowsley