domingo, 30 de novembro de 2008

Hermann Hesse


"Nada lhe posso dar que já não exista em você mesmo. Não posso abrir-lhe outro mundo de imagens, além daquele que há em sua própria alma. Nada lhe posso dar a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isso é tudo."

(Hermann Hesse)

Os sapatos

"Ao pegar um ônibus, um dos sapatos de um homem escorregou do seu pé e caiu para o lado de fora. A porta se fechou e o ônibus partiu. Ao ver que seria impossível recuperar o pé de sapato perdido, ele retirou o outro e jogou-o pela janela. Um rapaz no ônibus, vendo aquilo, perguntou : Porque jogou fora o seu outro sapato? "De forma que quem encontrar seja capaz de usá-lo. Apenas alguém necessitado dará importância a um sapato encontrado na rua. E de nada adiantará apenas um pé de sapato". Ele mostrou que não vale a pena agarrar-se a algo só por possuí-lo e nem porque você não deseja que outro o tenha. Temos que aprender a desprender. Alguma força decidiu que era hora dele perder seu sapato. Perdemos coisa o tempo todo, mas essa perda acontece de modo que mudanças possam acontecer em nossas vidas, na maioria das vezes positivas. Acumular posses não nos faz melhor e nem faz o mundo melhor. Todos têm que decidir se algumas coisas devem manter seu curso em nossa vida ou se estariam melhor com outros."

(autor desconhecido)

D. Hélder


"Quando houver contraste entre a tua alegria e um céu cinzento, ou entre a tua tristeza e um céu em festa, bendiz o desencontro que é sinal divino de que o mundo não começa nem acaba em ti."
(D. Hélder)

À minha avó Edinete!

Canção na plenitude
Lya Luft

Não tenho mais os olhos de menina
nem corpo adolescente, e a pele
translúcida há muito se manchou.
Há rugas onde havia sedas, sou uma estrutura
agrandada pelos anos e o peso dos fardos
bons ou ruins.
(Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.)

O que te posso dar é mais que tudo
o que perdi: dou-te os meus ganhos.
A maturidade que consegue rir
quando em outros tempos choraria,
busca te agradar
quando antigamente quereria
apenas ser amada.
Posso dar-te muito mais do que beleza
e juventude agora: esses dourados anos
me ensinaram a amar melhor, com mais paciência
e não menos ardor, a entender-te
se precisas, a aguardar-te quando vais,
a dar-te regaço de amante e colo de amiga,
e sobretudo força — que vem do aprendizado.
Isso posso te dar: um mar antigo e confiável
cujas marés — mesmo se fogem — retornam,
cujas correntes ocultas não levam destroços
mas o sonho interminável das sereias.

À minha avó, EDINETE, pessoa que tanto amo e admiro!
Obrigada por tudo, voinha! =)

Psicologia Organizacional

Psicologia Organizacional

Dentro da psicologia ainda existem certos preconceitos...
Um deles diz respeito à psicologia organizacional.

Alguns profissionais que atuam, em geral, em outros campos da psicologia, dizem que o psicólogo organizacional é um mero aplicador de dinâmicas, destinado "apenas" à seleção de pessoas...
Engano.

Aqueles que já experimentaram o trabalho em empresas, consultorias, sabem que isso é muito relativo, como tudo - ou quase tudo! - na vida.

Em qualquer profissão, e em qualquer área de atuação, o profissional "acomodado" pode optar por realizar meramente as atividades "obrigatórias", exigidas pela empresa, limitando-se a realizar o que não pode deixar de ser feito...

Contudo, existem bons profissionais, bons psicólogos, que, em qualquer local que atuem, oferecem o melhor que têm para oferecer.
Não se limitam a recrutar e selecionar: aproveitam a seleção para orientar, tranqüilizar, transmitir confiança, propôr reflexões, levantar questionamentos.
Existem profissionais, pasmem!, que até dão o retorno, por telefone, sobre o processo seletivo! Pois é! Existem bons psicólogos assim!

Pessoas que não se satisfazem em apenas colocar uma pessoa capacitada numa vaga vazia. Objetivam encontrar alguém que, naquele momento, revela disposição e interesse em trabalhar naquela função; que tem capacitação mas, se não tem, possui imensa disposição para estudar e dedicar-se a aprender; alguém que, assumindo aquela tal vaga vazia, se sinta realizado, satisfeito, feliz atuando naquele emprego, pois, caso contrário, certamente se desmotivará ou, até pior, adoecerá por não suportar as atividades cotidianas...

Existem bons psicólogos nas organizações.
Pessoas que sabem a importância de seus trabalhos; que sabem o valor de humanizar, sempre, todos os ambientes constituídos essencialmente de seres humanos; pessoas que valorizam cada oportunidade de falar com outras pessoas, como chances de cuidar, auxiliar, ou até mesmo mobilizar: "será que você será feliz neste cargo?".

Toda forma de preconceito é um "prato cheio" de ignorância...

Natalie S. Dowsley.

Drogas: efeito dominó

Senti necessidade, após ler uma reportagem, em falar sobre o uso de drogas.
Não tenho pré-conceitos sobre quem faz uso de substâncias psicoativas, lícitas ou ilícitas... Mas, seria difícil, para mim, não assumir uma posição quanto ao uso de drogas.

A reportagem que deu margem a essa minha necessidade pode ser conferida no endereço http://www.bonde.com.br/bonde.php?id_bonde=1-3--644-20081128.
Mas, não pretendo girar em torno da notícia acima.
Prefiro falar de minhas experiências e sentimentos.

Drogas são quaisquer substâncias, naturais ou sintéticas, que produzem modificações no organismo e em suas funções. Nesse conjunto de possibilidades estão os remédios, as substâncias obtidas através de plantas, como a maconha e alguns chás, as drogas produzidas "em laboratório", como o crack, a heroína... Na verdade, se pensarmos direitinho, tudo no mundo pode funcionar como uma "droga": o chocolate, o refrigerante de coca, o café, e até um "amor" patológico... Tudo, quando em excesso, pode causar mudanças pouco saudáveis no organismo.

Sem entrar, portanto, nessa discussão sobre o que é "droga", o que é "ruim", se deve ou não ser legalizado, etc, gostaria apenas de refletir sobre a dependência de drogas.

Muitos afirmam e defendem a idéia de que as drogas não fazem mal à saúde dos seus usuários: não matam neurônios, não podem levar à depressão ou ao suicídio, etc. Outros, por sua vez, defendem que as drogas, todas elas, causam problemas, a curto e longo prazo, no corpo e na vida dos usuários.
Independente disso, as drogas são uma droga!

Mesmo que não façam mal à saúde do seu usuário, fazem um mal tremendo à saúde das pessoas ao seu redor!
Pais, filhos, vizinhos, amigos... todos sofrem as conseqüências ao conviver com dependentes de drogas. O cigarro, quando fumado por um, pode levar ao câncer de pulmão do outro, que nunca pôs um cigarro na boca. O álcool, bebido "socialmente" por uma pessoa, pode levar ao acidente de carro que mata mais quatro, que estavam sóbrios, ou à violência doméstica, que, sabe-se, é muitas vezes iniciada após uma grande "bebedera".
O crack, a heroína, a cocaína, podem induzir a alucinação e o delírio, levando um usuário a matar um desconhecido porque acreditava piamente que este era um assassino que estava lhe perseguindo e que queria lhe matar. Ou, ainda, pode abrir "portas" que levam adultos a abusarem sexualmente de crianças.

Todas as drogas podem fazer mal aos seus usuários.
Mas, pior do que isso: todas as drogas podem fazer muito mal aos outros, que convivem com esses usuários.
Não acho que a dependência química seja um "problema" exclusivo do usuário ou que este deve ser "abandonado" e tratado como um "fraco" ou egoísta... Não! Sei da imensa importância do apoio da família e dos amigos no tratamento das dependências. Sei, também, que se trata, muitas vezes, de uma doença e, desta forma, não é algo "fácil" de resolver sozinho.

Porém, acredito que, se a pessoa que usa drogas não se conscientiza do problema que está causando a si e aos outros, se não assume que, de fato, precisa de cuidados, dificilmente qualquer tratamento trará resultados positivos quanto ao abandono das substâncias... e, assim, perpetuará a dor e o sofrimento daqueles que querem ajudar aqueles que amam, mas que também querem viver uma vida minimamente tranqüila e feliz...

Natalie S. Dowsley

A Pandora

Pandora,

escrevo esta carta apenas para te agradecer.
Agradecer porque abriste aquela caixa proibida;
porque abriste mão da responsabilidade
em prol da felicidade;
porque deixaste cair aquela máscara
que te impuseram,
que te sufocava
e sufocava a todos nós...

Escrevo-te para dizer
que os males da humanidade sempre estiveram presentes...
Na caixa, na alma,
escondidos ou expostos,
não importa!
Revelaste o que já havia,
e não fizeste mal em fazê-lo.

Somos humanos,
temos falhas,
e as colocamos em prática.
Tua caixa expôs apenas a ferida narcísica
que nos incomodava.

Tua caixa, aberta,
nos fez mais humanos,
menos irreais
como os deuses.

Tua caixa, querida Pandora,
mostrou que somos imperfeitos,
inexatos,
incongruentes
e outrora impiedosos.

Somos egoístas, somos covardes,
temos medos, temos frio,
temos fome.

Tua caixa, ó Pandora,
mostrou que, apesar de tudo isto,
somos belos,
estamos vivos!
E, por sermos vivos,
somos mutantes,
somos atuantes,
não fantoches, sob a mão do destino.

Somos humanos, com toda a nossa humanidade,
e nos resta o precioso dom da esperança:
esperança de que possamos nos aprimorar;
esperança de que possamos nos olhar mais,
nos respeitar mais,
nos amar mais;
esperança de que o mundo possa seguir outro rumo,
e inverter esta parábola,
subindo ao invés de descer...
esperança de que o mundo seja melhor.

E a esperança, Pandora,
tu salvaste e a guardaste
no fundo da tua caixa
e no fundo, no fundo,
de toda a nossa alma.

Natalie S. Dowsley
(A Simone, por seu T.C.E. lindo e inspirador!)

"Daqui a cinco anos você estará bem próximo de ser a mesma pessoa que é hoje, exceto por duas coisas: os livros que ler e as pessoas de quem se aproximar"

(Charles Torres)


sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Creio na bondade humana!


"Oh, Francisco, a gente não ama isso!
A gente não ama ódio e maldade, claro.
A gente tem que praticar e ver a gaivota autêntica,
o bem em todas elas,
e ajudá-las a vê-lo em si mesmas.
Foi isso que eu quis dizer com amor.
E é divertido quando a gente pega o jeito da coisa."
(Fernão Capelo Gaivota - Richard Bach)

Nossa "tendência atualizante" existe, e busca nos conduzir sempre ao bem, à harmonia, como os brotos de batata buscavam os pequenos raios de sol, que invadiam o porão da casa de Rogers.
Somos bons. Creio nisso.

Transparente


Transparente

Eu gosto das coisas claras.
O móvel da sala, as cortinas do quarto,
o dia ensolarado, a alma das pessoas.
Gosto do que é límpido.

Admiro a bola de sabão
Por sua transparência e leveza
E busco, na imensidão de todos os olhos,
um pouco dessa clareza.

Gosto daquilo que é óbvio,
daquilo que é misteriosamente simples.
Não gosto do escondido, do não-dito,
do inexpressivo.

Amo aquilo que se revela a mim
Desde o primeiro toque dos nossos olhos,
Desde o primeiro beijo de nossas almas.
Gosto do que posso amar ou odiar, sem incertezas.

Adoro os corações incolores,
que não se escondem por trás de
desculpas esfarrapadas.
Adoro o que é dito, por mais que dóa.

Gosto de saber, de ser informada, de ser
tocada... ou, até mesmo, trocada...
desde que seja às claras,
desde que haja honestidade.

Adoro a chuva, as crianças,
as lágrimas e as lembranças:
são todas sinceras, autênticas,
preocupadas apenas em ser...

Amo a sinceridade de um não,
principalmente comparado
a um sim esquizóide,
dividido entre meias-verdades.

E em cada sonho que construo
Rezo para que o mundo
Seja cada vez mais limpo,
Cada vez mais autêntico,
Cada vez mais bonito.

Natalie S. Dowsley.

domingo, 2 de novembro de 2008

Outono


Será que mereço o que sou?
Ou será que mereço ser o que não sou?
Questiono-te sobre isto incessantemente.
Mas ainda aguardo a resposta...

Contaram-me, ontem, que ouviram você me falar.
Disseram que, diante do mar,
as ondas gritaram meu nome
e diziam-me aromas de amor.
Eu não ouvi...

Acho que ando perdida,
escondida por entre árvores e galhos,
buscando flores em meio ao outono.
Acho que não ando...

Parece que parei, sentada no tempo,
no ponteiro de um relógio
que não marca mais nada...
há muito tempo...

Mas me disseram, novamente,
que ouviram tua voz me contar
que escuta meus pedidos, que sente minha gratidão,
todas as vezes que o vento corta o meu rosto,
libertando meus cabelos ao céu.

Olhei para o ar, real e invisível,
mas não enxerguei você.
Acho que alguém está enganado...
Será que sou eu? Será que é outrem?
Não sei...

Vou te confessar que lembrei muito de você
Hoje, quando caminhava e o sol impedia minha visão.
Lembrei dos nossos desencontros,
naquelas noites em que me perdi de mim mesma.

Lembrei dos nossos encontros,
em meu espelho, no dia seguinte:
você, banhado por minhas lágrimas;
eu, perdida em meus pensamentos...

Vou te contar que entendi.
Você e eu somos um.
Por isso que não consigo te ver, agora,
porque não enxergo mais a mim.

Não posso te ouvir, inteiramente,
porque não consigo nem mesmo sentir
o pulsar do meu coração,
a minha respiração ofegante,
os meus pensamentos e sonhos adormecidos.

Agora que posso perceber e sentir tudo isto
Quero te revelar o quanto amo:
a mim mesma, à minha vida.
Obrigada por você fazer parte de mim, sempre
e por me dizer que sou aquilo que sou,
e serei bela e amada, eternamente.

Natalie S. Dowsley.

Inflorescência

Pétala por pétala
Retirei tuas defesas
Encontrei o centro de tudo,
a verdadeira flor na sua inflorescência.

Lá, encontrei a verdade contida
Tudo o que eu já sabia, mas você, ainda não.
Encontrei nosso amor
e as sementes de um futuro abortado.

O aroma! Há!, o aroma!...
Tinha teu cheiro e o meu,
nosso suor.
Tinha o cheiro do amor, do sol, da vida!

Toquei cada pedacinho de céu
Abracei cada sombra de você
com a mesma intensidade e imensidão
que vive em meu olhar, quando fita os seus.

Mergulhei no azul infinito e escuro
conhecidamente misterioso
que é o teu coração.
Nadei para me salvar.

Enganei-me achando que nosso amor me protegeria.
Nosso amor sempre foi denso demais,
pesado demais,
intenso demais...

Afundei.
E no fundo de algo que não sei o quê
encontrei apenas solidão, medo, dor.
Entendi.

Quase ao fim de mim mesma
senti tuas mãos em minha cintura
puxando-me com ternura e força
como pedindo um abraço meu.

Salva do teu eu sombrio
conheci nossa história,
reconheci nossos limites,
compreendi o fim de algo nunca iniciado.

Seu passado, tão presente,
é nosso, inexplicavelmente... obviamente.
Você é o que já foi.
E nós somos o que nunca seremos.

Toquei suas lágrimas com um beijo
E sequei a seriedade em tua face.
Ofereci, a nós dois, sorrisos verdadeiros
e certezas de que nosso amor é real.

Como presente, ofereci meu diário, meus segredos.
Contei, como se conta uma história irreal,
sobre nosso amor surreal,
e te expliquei porquê...

Nós não seríamos um, jamais
porque já somos, e sempre seremos.
Mas somos um quando separados.
Juntos, nossos medos e lagos mortos obscurecem nossos desejos.
Ficamos fracos.

Juntos, somos metades em busca de perfeição.
Longe, somos inteiros, completos numa imensidão.

Por isso te digo, com uma gota de pesar
que ainda teima em escorrer em minha face:
seremos sempre um,
distanciados por uma barreira transparente e saudável.

Assim, seremos nós, verdadeiramente
Felizes, completos e inflorescentes
Protegidos por nossas pétalas,
que são meramente folhagens bonitas...

Natalie S. Dowsley.

sábado, 1 de novembro de 2008

Ainda sobre "Precisamos falar sobre o Kevin"...


Há! Como precisamos falar sobre o Kevin, ainda...!
Não mais sobre as mortes...
Quer dizer... também sobre as mortes...

Mas, acho que, agora, precisamos falar sobre o amor.
O amor não é apenas aquilo que se cultiva quando o nosso mundo está bem,
em ordem, agradavelmente confortável e seguramente estável.
O amor é aquilo que se mantém nas trevas do silêncio,
e também durante o ensurdecedor anúncio de tudo o que é não-dito.

O amor, puramente amor,
é aquilo que fica quando não resta nada mais que o vazio.
É aquilo que não preenche espaços,
e sim esvazia-nos de nós mesmos,
de nossos egoísmos, impondo-nos um mundo de outros...

Há! Preciso falar sobre o Kevin... Sobre Eva, sobre Célia, sobre Franklin...
Sobre mim.
Talvez, sobre você também...

Chorei.
Agora posso dizer que concluí algo, e não foi apenas mais um livro...
Concluí algo que, parece, já me habitava,
mas agora é revestido de uma manta fortalecedora ainda mais quente, acolhedora:

Concluí que mesmo diante dos maiores erros que possamos cometer,
mesmo diante daquilo que nomear de erro chega a ser indecoroso,
mesmo frente ao absurdo,
somos seres capazes de re-enxergar, re-avaliar, re-perceber
tudo o que nos compõe: nós mesmos, os outros, o mundo, a vida, Deus...

Somos capazes de, demorando o tempo que precisar demorar,
re-significar-nos, construindo novos olhares,
tocando a vida com mãos mais suaves, afetuosas, até!
A dor que causamos a outros, iludi-se quem pensa o contrário,
também nos causará dor... não importa se será 2 minutos depois... ou 2 anos.

Somos incrivelmente surpreendentes.
E belos.
Quero acreditar nisto.
Por hoje, acredito.
E só eu sei quanto estou feliz com isto!

Natalie S. Dowsley.